
Eu ateia venho pontificar aqui do meu púlpito. A Igreja na sua estrutura e doutrina sempre foi a Instituição cujos dogmas (por homens criados), não se coadunam com qualquer tempestade de mudança.
A simplicidade, a pobreza, a defesa das mulheres, dos pobres, das crianças, dos discriminados, consequentemente dos mais vulneráveis fazem parte da linguagem e da percepção contudo não fazem parte da estrutura.
Por isso Francisco entrou no coração de todos. Pela simplicidade, o afecto, o seu humanismo. Como um dia foi o Pontificado de 33 dias de João Paulo I, o Papa Italiano suspeito de ser demasiado Progressista.
A Igreja desde a sua fundação tem por estrutura um cimento sem molde de adaptação ou de transformação. É uma teocracia rígida, de homens fechados em longas saias pretas, agrupados para dentro de si, como o são as arquitecturas conventuais cuja tramitação de poder se faz por sangue interno, entre cardeais e bispos.
Tal como numa monarquia a sua estrutura não se democratiza nem abre a porta a plebeus, ou mulheres. Ou seja, a democracia nunca fará parte da sua composição nem entrará por qualquer porta de São Pedro.
A Igreja continuará a ter como dogma o sacerdócio exclusivamente masculino (este que esconde a homossexualidade nos armários do Vaticano) bem como os filhos de padres sem paternidade responsável e assumida. Continuará a ter a pedofilia como prática escondida entre irmãos da mesma fé no crime. Continuará a reinar e a esconder abusos sexuais, mortes e desaparecimentos suspeitos não apenas em escolas de padres e freiras como nos casos da Irlanda, do Canadá, Itália e outros. Continuará a lutar contra o aborto e a eutanásia, que se danem a pobreza e a dignidade humana. Ou as mulheres. Continuará a ser contra o casamento de pessoas do mesmo sexo biológico. Pode benzer sem os acolher. A Sagrada Família nos dogmas, os “pecados” na prática. O sexo escondido como libertação.
A Igreja continuará a ver as mulheres como inferiores (excepto as freiras que dão imenso jeito para tarefas domésticas e alívio sexual). A mulher esse bicho causador de discórdia. A origem do mal do mundo, a tentação com a maçã, o objecto de ódio, a proscrita da costela de Adão, onde se fixa o começo da misoginia. Ah se os homens pudessem conceber e se livrar da mulher…ou usá-la para sexo e em seguida desaparecesse….Excepto a Virgem Maria. Sagrada, essa.
Em tudo o oposto da vida e da pregação de Jesus. Quanto a mim, uma herege, dogmas criados por homens de saias, escritos hipocritamente em nome de Deus.
A Igreja pediu desculpas (esfarrapadas) por muitos dos crimes nos quais participou, autorizou e cometeu. Nunca reparou alguns desses graves crimes contra a humanidade – muitos iniciados por intervenção directa através de Bulas Papais.
Vejamos uma breve lista…
– A Escravatura, a Inquisição, o envolvimento em várias fraudes financeiras, como o exemplo do Banco Ambrosiano do Vaticano ligado à Máfia e à Maçonaria, a Pedofilia, o apoio aos crimes Nazis e a cumplicidade (por saber do que se passava) no Holocausto, como também o apoio ao fascismo em Portugal, Argentina, Itália, Espanha, Alemanha, entre outros lugares.
Sempre a prosmiscuidade entre Reis, Repúblicas, Estados e a Sacrosancta Ecclesia. Poder e Igreja. Ou Igreja e Poder.
A mesma que quando fez limpezas de imagem o fez com amaciador e nunca com sabonária. Menos ainda as fez e faz com a intenção de se transformar ou regenerar. Nunca foi essa a sua intenção. A Igreja está entranhada no tecido social e político das organizações humanas desde que se fundou com o Império de Roma cujas mudanças cumpridas até aos dias de hoje nos afectam – alteração de calendários a belo prazer de Papas, detenção e infiltração na Educação das populações com os seus dogmas, lançamento de feriados e dias santos usurpando os rituais pagãos ligados às estações da natureza (hoje chamar-se-ia usurpação cultural a este processo) uso do medo e da separação entre povos, através de um livro sagrado. A estas realidades ninguém tira os direitos de autor.
Francisco foi um Processo Histórico e Revolucionário em Curso que termina com ele, ao melhorar a imagem e a linguagem de que a sua Igreja tanto precisava actualmente. Fez-nos ter vontade de convidá-lo para jantar em família, ou entre pagãos amigos, ouvir cumbias e discutir sobre a vida e os homens. Foi ecologista, foi anti-capitalista, foi anti guerras, trouxe afecto, foi feminista, criou afectos com os homossexuais (quem sabe falando para dentro da sua casa), quiçá fez-me imaginar (por um segundo) que um dia aconteceria o religar (de religião) de humanos com a espiritualidade.
Foi o primeiro Papa jesuíta, o primeiro Francisco, veio da depauperada América do Sul que sempre enfrentou fascistas, pobreza, roubos, crime violento e corrupção tendo na Igreja Católica a pedra basilar na cumplicidade com a História, pelas suas ramificações no tecido das populações.
Francisco foi um sopro de oxigénio nesta bafienta Igreja obsoleta, fechada e pesada pelo monóxido de carbono. Conseguiu agregar corações de todas as cores e credos, até de povos indígenas que ele soube ver. Mas Francisco progressista – anos depois de João Paulo I – nunca conseguiu mudar a Igreja para além de umas pinceladas exteriores, porque o interior esse, venha quem vier, o seu centro não mudará.
Anabela Ferreira
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