Assim falava Zaratustra, o asceta no século dezanove, pela mão de Nietzsche.
Somos “os assassinos dos assassinos”, em simultâneo a máquina predadora mais sofisticada e básica. Hipócritas centrados no próprio umbigo. Bastava dizer esta frase para resumir o meu pensamento de hoje. Mas fui ensinada e habituada a pensar e a desenvolver. Aos pacientes da leitura, acompanhem-me nesta ligação que eu agradeço. Porque precisamos de muitos.
Na contemporaneidade os narcisistas mostram o quanto o abandono do que é divino, do mistério e do sagrado, de valor e propósito, está morto. Deu lugar ao renascimento do narcisista baseado na tecnologia de ponta, que da ponta fez desabrochar o fascismo adormecido e dormente. O narcisista que apenas consigo se importa e reacende o que lhe provoca borboletas no centro, sem cuidar dos outros.
Dizia o asceta Zaratustra, que o assassinato de Deus, é o comburente que tempera a têmpera e faz acender a chama do ódio e da desumanização. Não se referia à morte do Deus católico, cristão, evangelista, judeu, muçulmano ou de qualquer outra religião, credo, culto ou seita.
Todos esses deuses monoteístas (ou não), criados para castrar e controlar são uma cambada de invenções de narcisistas hipócritas que escondem os pecados. Que matam sem piedade às escondidas colocando uma frente de virtude. Só não vê quem não quer. Que há inocentes e ingénuos em busca do sagrado e do divino, claro que os há.
Zaratustra referia-se àqueles que sem visão no sagrado, no divino da existência da própria humanidade, desumanizam. Aqueles que tratam o racismo, a pedofilia, o genocídio, a violência contra as mulheres, a sexualização da sociedade, o tráfico humano, a pobreza, como capitais endeusados e de valor.
O resto de nós habituou-se a tratar esses assuntos como menores e banais! Escandalizamo-nos por dentro com muito pouco. Banalizamos as imagens e notícias do fogo, das guerras, da fome, dos genocídios, da violência sexual, da pedofilia, da violência doméstica. De seguida cometemos um crime com as próprias mãos. Porque já nada significa, está vazio de sentido.
O polícia de segurança pública que se esconde e espanca até matar o imigrante marroquino é disso exemplo. Ou aquele que espanca uma mulher preta só porque odeiam pretos é outro exemplo. Os que falam mal dos imigrantes, com ressentimento e ódio são mais outro exemplo.
A isto se referia o asceta louco Zaratustra de Nietzsche. Aquele que Hanna Arendt estudou e nos trouxe como significado de uma época da História. São assuntos que tornam pessoas normais em monstros capazes de atrocidades sem medida humana. Como aqueles velhos brancos um dia fizeram durante a Escravatura e hoje fazem matando uma população inteira de pele castanha, na Palestina. Com o beneplácito acordo e ajuda de outros brancos velhos narcisistas obcecados pela exclusividade do lugar de poder.
Na América de Trump, no Brasil de Bolsonaro, no Portugal de Ventura, na Itália de Meloni, ou na Hungria de Órban. Passo a passo seguem o livro de ensinamentos de como destruir a humanidade que há em nós. O narcisista que matou o divino, o sagrado, a humanidade.
Chegar aqui diz muito sobre a espécie. Que um narcisista o faça eu posso empiricamente entender. Que nós o sigamos e lhe ofereçamos a nossa impressão digital torna-nos cúmplices. Deveria envergonhar-nos. São os loucos psicopatas – narcisistas (não o louco asceta Zaratustra de Nietzsche que grita termos matado Deus) a conduzir os cegos, na voz de Shakespeare.
Imaginam se andassem a estudar Dostoievski, Nietzsche e Shakespeare na escola? Em breve o plano nacional de leitura vai levar uma corrida para fora das escolas. Quanto mais ignorantes, idiotas, sem capacidade de raciocínio melhor seremos enganados por estes génios narcisos hipócritas. Melhor instruídos a educar e a fazer o mal, seguidores do niilismo político, e a não contrariar veementemente o curso do rio. Criando mais soldados a conduzir rebanhos para os duches.
Esquecemos por completo o humano que buscou no divino, as respostas para a existência. Que evoluiu porque existem os outros. Que se fez humano porque outros humanos consigo cooperaram. Ao tratarmos todos os assuntos mencionados como um assunto menor estamos a brincar com o fogo (andamos mesmo e com um propósito).
Estamos há anos a tirar dos armários os fantasmas e os monstros mais perigosos de todos os séculos da História. As bestas vieram a passeio conduzidas pelas mãos de narcisistas ambiciosos, hipócritas e vendidos, sem deus, nem rei, nem lei. O tinder (a ignição do fogo) foi deslizado para a direita e apanhou-nos.
Se eu aceitasse as palavras destes narcisistas que mataram o divino, estaria a violar as campas dos meus antepassados Escravizados. Daqueles mortos nos campos de concentração com Zyklon B. Dos perseguidos por serem judeus ou cristãos. Dos que ficaram sem cabeça por serem muçulmanos. Sem nunca esquecer a bruxas queimadas pela Santa Inquisição. Estaria a esquecer todos os mártires que morreram antes de mim para conseguirem a liberdade.
Porque essa – ou a evolução espiritual e intelectual – não nos é oferecida por ninguém como se fosse uma estátua. Temos de a conquistar a duras penas nesta existência que experimentamos. Resta-me uma pequena certeza. Entrámos no funil deste lago. Estamos no prato da refeição destes narcisistas.
Eles que são por defeito da natureza – hipócritas racistas e ditadores. Ficarão a saber que serei uma a menos nas suas contabilidades dos seus exércitos. Incluindo enquanto puder votar.
Quando vejo uma pessoa normal a ser atiçada pela raiva, o ódio, o rancor e a banalizar o mal, não esqueço Zaratustra. Esse alguém deixou matar o divino e o sagrado. Matou Ágape, Philia e Ubuntu. Esqueceu-se que evoluiu porque existem os demais, que se fez humano porque os outros humanos consigo cooperam.
Incluindo um narcisista. Não será nada sem o alimento dos demais. Passa pelo meu presente à vida não lhes dar comburente. Estamos nas mãos destes narcisistas que mataram Deus. E agora? O que será de nós?
Deus não nos virá ajudar. Ficou tão orgulhoso da sua criação que agora está escondido num canto, cabisbaixo, profundamente envergonhado e observa com espanto as predadoras super máquinas. Atingiram um nível tecnológico perfeito. E agora?
Se pensar bem aqueles de nós que não os queremos no governo disto tudo – essas máquinas assassinas – somos muitos mais que eles. Basta que nos organizemos na Ágora, pensando em Ágape, um valor Ocidental que a civilização Ocidental passou. Civilização que também ajudou a desmantelar e a matar os valores Africanos sob a tutela do propósito Ubuntu – baseado na empatia humana e na cooperação.
Uns e outros são exactamente os mesmos. A Civilização Ocidental (mais recente), incluindo Nietzsche, foi beber nos princípios mais antigos Africanos. São eles que usarei e falarei até morrer.
Anabela Ferreira
Deixe um comentário