Diz o meu nome!

Há uma referência no culto da supremacia branca global. É francês tem 78 anos, vive num castelo com vista para os Pirenéus na terra de D´Artagnan.

Registou a patente da expressão “a grande substituição” nos seus livros. Expressão inspiradora e usada pelos grupos de extrema-direita – cujos fins são como sabemos ilegítimos, anti-democráticos, fascistas, racistas, contrários à evolução da humanidade – que visam apenas provocar medo, apelam aos instintos primários de sobrevivência, à emoção sobre a razão.

Se o ser humano puder viver com medo do outro, conquista-se uma boa parte da mente. Se não for dos comunistas, do Putin, dos chineses, é do muçulmano, do africano, do paquistanês ou do indiano. Os diferentes da cor de pele branca com olhos azuis. É simples. 

No século XV, quando foram avistados os primeiros homens cor de chocolate preto, ou azeviche retinto (uma marca de chocolate que acabo de inventar), na Costa ocidental Africana, as elites brancas dominantes arranjaram de imediato uns cientistas a quem pagaram uns sacos de moedas para formalmente criarem a teoria de que esta nova “raça” encontrada era inferior.

Fenótipo diferentes logo não era humana. Era sim inferior, tinha o cérebro mais pequeno, logo incapaz de pensar como um branco. Fisicamente altos, fortes e musculados, com bons dentes. Serviam bem como força de trabalho. Seriam objectos e seriam tratados como coisas.

A teoria propagar-se-ia como fogo, foi bem anunciada, divulgada ad nauseam, repetida sem conta, até se tornar numa verdade (como séculos depois Goebbels afirmou – uma mentira repetida exaustivamente torna-se verdade) com efeitos duradouros, profundamente enraizada.

Está tudo inventado, está tudo estudado e sabido excepto a cura para doenças graves com origem no cérebro ou nas células e órgãos humanos, como o cancro, o Alzheimer, a ELA, a Diabetes e por aí vai. Até o fogo e a roda já foram inventados, imaginem!

A supremacia branca tem para si a teoria inventada pelo escritor Renaud Camus, um velhinho amoroso de olho azul, que a fez exportar para o mundo global contemporâneo.

Não sei o que pensar dos Franceses que tanto nos trazem do mundo do Iluminismo, das Ideias, do intelecto humano, tanto quanto deste tipo de remanescência do homem primitivo e bárbaro. Não sei mais o que pensar desta agenda deliberada de fazer odiar imigrantes de pele escura. Não os imigrantes de tez clara com vistos gold, não sobre o dinheiro/bancos/corporações sem passaporte, nem identidade, nem nacionalidade. Esses viajam na impunidade das redes sem fios, nem laços nem impostos, nem contributos para o bem-estar sociais e colectivos. Os outros de pele escura são desumanizados e coisificados. 

Afinal aqui quem são as bestas da destruição? Ou os verdadeiros inimigos?

Enquanto o resto da humanidade quer evoluir e crescer, há bolsas de energúmenos que pensam, espalham, divulgam, mentem deliberadamente estas teorias de que a Europa e a América estão a ser invadidas, substituídas e colonizadas (só mesmo para rir daqueles que durante cinco séculos colonizaram o mundo). Vamos espalhar o medo do outro. Olhem a população branca a ser substituída por gente inferior, de pele escura, gritam os selvagens…e nós comemos, acreditamos e engolimos sem mastigar. Faz calor, somos preguiçosos, logo dá trabalho pensar ou ler. Os selvagens não são os outros como nós…entendem isto? Ou precisamos de desenhos?

Foram Bannon, Le Pen, Bolsonaro e Venturas da vida do mundo global contemporâneo, hoje pagos com sacos de moedas a fazer o papel dos cientistas do passado do século XV e do século XX com os Nazis.

A roda do rato da História a girar sobre si própria. Envergonhem-se cambada de atrasados, aqueles que acreditam nestas teorias conspiratórias! É isto e a terra ser plana…tão plana quanta a imbecilidade.

Sem querer ofender ninguém (mas com vontade e deliberação), deixo mais uma migalhita, como Hansel e Gretel fizeram até conduzirem os pais à casa da bruxa.

No século XV foi a Igreja Católica a pagar bem a Indústria da mentira e do apelo ao medo, hoje são os evangélicos a dobrar as apostas.

Não há substituição, nem o mundo será atroz se tiver maioria de gente africana, asiática, mestiça, morena, amarela ou verde. O branco fará sempre parte de uma única raça, gostem ou não gostem. Ide apanhar sol e aumentar a melanina, vivendo abaixo do Equador.

E é por estas razões, por acreditarem numa mentira deliberada e repetida exaustivamente que gente vota massivamente nas amebas pagas para fazer malabarismos e ilusionismo no circo. 

Por todas estas razões o racismo deve rapidamente tornar-se crime na letra da lei e não apenas uma coima. Prendiam-se já cinquenta e picos deputados na Assembleia da República que dizem nomes de crianças nas escolas Portuguesas por puro racismo e xenofobia.

Digam o meu nome! Sou Maimuna, nome africano, mestiça, preta retinta, sou Portuguesa, Africana e Humana. 

Anabela Ferreira

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