António José Seguro não é o meu candidato ideal, nunca foi, não o escolhi por entusiasmo, por afinidade ideológica nem por qualquer espécie de fervor partidário.
Escolho-o por uma razão muito simples, entre todos os candidatos que se apresentam às eleições presidenciais, é o único que oferece garantias mínimas de que a função de Presidente da República será exercida com dignidade, isenção, sobriedade institucional e respeito escrupuloso pela Constituição.
E isso, convenhamos, nos tempos actuais, não é pouco, antes pelo contrário.
O Presidente da República não é um comentador político, não é um gestor de interesses, não é um chefe militar providencial nem um tribuno de praça pública. O Presidente da República é o garante último do regular funcionamento das instituições, o árbitro que deve falar pouco, agir com ponderação e colocar o interesse do Estado sempre acima do seu ego.
É precisamente aqui que a maioria dos candidatos falha de forma clamorosa.
Comecemos por Luís Marques Mendes que representa tudo aquilo de que o país está cansado, o pior de um sistema de promiscuidade entre política, negócios e influência mediática. Um percurso recheado de zonas cinzentas mal explicadas, de portas giratórias e de avenças milionárias que jamais foram devidamente escrutinadas e nunca serão devidamente explicadas. Um candidato que viveu confortavelmente do sistema que diz comentar e analisar não pode, com seriedade, apresentar-se como símbolo de independência ou de autoridade moral.
A Presidência da República não é um prémio de carreira nem um cargo honorífico para quem passou décadas a navegar nos bastidores do poder.
Quanto a Henrique Gouveia e Melo, a sua candidatura assenta quase exclusivamente numa narrativa artificial de “salvador da pátria”, uma imagem construída no contexto da vacinação contra a covid-19, frequentemente, de forma muito conveniente, ignorando que o verdadeiro mérito pertenceu a uma vasta equipa técnica, logística e médica que lhe foi colocada à disposição, mérito esse que nunca teve a humildade de repartir.
Pior ainda, mostrou de forma cristalina o tipo de liderança que pratica quando chamou a comunicação social para enxovalhar publicamente marinheiros que se recusaram a embarcar num navio que não reunia condições mínimas de segurança. Um líder não humilha em público, um líder protege, assume responsabilidades e corrige em privado. O que ali vimos não foi liderança, foi autoritarismo de baixa qualidade.
Gouveia e Melo não é um estadista, é um capataz, a República não precisa de capatazes.
André Ventura dispensa grandes rodeios. É a antítese absoluta da função presidencial. Quem não respeita, nem quer respeitar, a Constituição da República Portuguesa, quem vê no cargo de Presidente uma plataforma para agitação permanente e, para um golpe palaciano destinado a subverter o regime constitucional, não pode, com um mínimo de decência, jurar cumprir e fazer cumprir a Constituição. Seria o exercício máximo da hipocrisia política.
O Presidente da República não é um incendiário institucional nem um agitador profissional.
Os restantes candidatos, com maior ou menor gravidade, padecem do mesmo problema, confundem protagonismo com autoridade, barulho com liderança, opinião com responsabilidade. Uns trazem currículos leves para um cargo pesado, outros transportam passivos éticos e políticos que os desqualificam à partida.
Nenhum deles parece compreender que o silêncio, a contenção e a elevação são virtudes essenciais na magistratura de influência.
É neste deserto que surge António José Seguro, não como o messias, não como o homem providencial, mas como alguém que compreende o lugar que o Presidente deve ocupar. António José Seguro tem defeitos? Claro que tem! Mas tem também um percurso marcado pela defesa do diálogo, pelo respeito institucional e por uma noção clara dos limites do poder. Nunca foi o incendiário de serviço, nunca foi um aventureiro constitucional, nunca confundiu a política com espetáculo ou vingança pessoal.
António José Seguro entende que o Presidente não governa, garante. Não legisla, protege. Não divide, procura unir. Num tempo de gritaria permanente, essa compreensão é quase revolucionária.
A postura serena de António José Seguro, a ausência de pulsões autoritárias e a recusa do populismo fazem dele, não o candidato perfeito, mas o candidato seguro, ironicamente, o nome assenta-lhe bem.
Votar em António José Seguro não é um acto de fé, é um acto de defesa. Defesa da República contra oportunistas que confundem Belém com um conselho de administração, contra autoritários que acham que mandar é humilhar, contra populistas que desprezam a Constituição mas querem jurar cumpri-la.
Perante candidatos que vivem do sistema, exploram o ruído ou sonham com golpes institucionais, António José Seguro é o único que não traz consigo um risco democrático, não promete milagres porque sabe que o Presidente não é um salvador, não ameaça porque respeita os limites do cargo, não divide porque compreende a gravidade da função.
Num boletim de voto onde quase todos representam um perigo, uns por interesse, outros por vaidade, outros por convicção antidemocrática, quando o voto serve para proteger a República, a escolha deixa de ser difícil.
É escolher o mal menor? Talvez!
Fundamentalmente, é escolher o único que parece perceber que a Presidência da República exige contenção, dignidade e respeito pelo Estado de direito. Num momento em que tantos querem usar Belém como palco ou arma, voto em quem, pelo menos, garante tratar a instituição com o respeito que ela merece.
Votar em António José Seguro é, nos tempos que correm, um acto de resistência democrática.
Jacinto Furtado


Não posso comentar, porque concordo ipsis verbis. Nem tão pouco acrescentar, porque a análise, apesar de intencional, é completa. Logo, apenas me basta partilhar.
Concordo contigo.
Um abraço forte.
Pedro Vieira