“It´s a big club and you ain´t in it” (George Carlin) e os embriagados da soberba

Ao passearmos nos tempos contemporâneos, façamo-lo com graça. Não para rir, porém tenhamos despida a burka e vestido o olhar observador. Ganhamos nós. Apreciaremos a peça de teatro com a cabeça arejada. Sabemos que vamos morrer, logo, não podemos levar a sério o que observamos, mas se levarmos a sério o objectivo final dos personagens que observamos, ligamos os pontos e compreendemos melhor as nossas penas e danos. Talvez nos organizemos na Ágora. 

No meu processo de observação sobre o qual escrevo tenho presente as palavras de George Orwell – “numa guerra a primeira vítima é a verdade”. Vivemos numa. Podemos ter alguma aparência de paz, vamos à praia, jantamos entre amigos, bebemos umas cervejas nos festivais, temos concertos, cinema e teatro a decorrer, ouvimos debates, contudo, não nos enganemos com a realidade. Por detrás desta cortina ilusória a guerra acontece.

Uma guerra do capital/corrupção/jogos de bastidores/acordos secretos/espionagem/armadilhas para chantagear é o processo em curso de uma facção que se regenera, nunca perdeu a esperança nem o objectivo de se fixar no poder.

A embriaguez do poder é não apenas apelativa, como afoga e ilude quem nela mergulha. Por isso, há um grande clube. São estes “ilustres” predadores soberbos. Tu e eu não pertencemos ao clube. Nem muitos daqueles que querem pertencer por proximidade o são. Apenas têm a ilusão.

Nalguns lugares a guerra cumpre a sua forma mais tradicional, noutra grande parte do globo vivemos em sociedades desajustadas, entre espelhos, ilusões e fumos para tapar a realidade, quais burkas a cobrir olhares indiscretos, de cidadãos perdidos, doentes, confusos e em dissonância cognitiva.

A educação, ou antes a deseducação cidadã, teve um papel principal neste acto (sempre baseado nas palavras de Orwell) de tapar a verdade.

Somos meros personagens de uma tragédia com alívios cómicos. Hoje quero fazer uma pequena ponte entre uns escritores (o que deixaram escrito em épocas diferentes da nossa). Num cruzamento encontraram-se Dostoievski, Steinbeck, Shakespeare e Orwell para escrever uma peça combinada a várias mãos.

Nesta peça todas as combinações de corrupção, personagens narcisistas e soberbas, gananciosas, onde traições, dinheiro escondido e lavado, mortes, inveja, chantagens, depravação, vícios sexuais, favores e excentricidades são livremente usados e permitidos. Desde que o poder seja alcançado.
Logo, já tudo foi escrito. Só venho relembrar.

Nada muito longe daquilo que deseja hoje um “influencer” do tiktok. Aparecer. Ser visto. Nem que para isso se venda por qualquer dinheiro. Tornar-se o presidente da junta.
Por isso se torna fundamental para os embriagados da soberba, comprar as redes sociais, pagando, usando as suas influências e grupos-alvo, dominando a história que se pretende contar, matando a verdade.
A receita da imbecilização levada à extrema simplificação.

Como nas histórias que cada um dos escritores nos mostrou, o poder, controlo e domínio são sem qualquer criatividade a única razão do existir destes personagens humanos.
Já cansa o mesmo guião.

Hoje vão um passo mais longe. Querem ser perpétuos. Não querem morrer. São viciados na soberba. Têm medo de deixar de existir com todo o seu poder e dinheiro.

Como todos nós humanos não queremos deixar de ver o nascer do sol, observar os filhos crescer, passear na praia a ouvir as ondas, a ver o mar, beber um vinho entre amigos e conversas.
Tu e eu, fora do clube, não entendemos esta perversidade, daí vivermos em estado de choque. 

Para esse clube a ambição é descobrir a fórmula para nunca deixarem de existir. Aqueles que vemos hoje com as suas empresas de alta tecnologia a financiar ambições de políticos procuram vida eterna com poder infinito e desmedido.

Vestindo uma burka para não se descobrirem identidades, mascarados de ONGs do bem, órgãos de comunicação social, redes sociais, produção de cinema e música, o objectivo é dominar, controlar e tornar-se eterno.

Entram em palco cientistas e outros “génios”, políticos, nobres e demais “amizades” com um personagem pedófilo, o Jeffrey Epstein, e a ópera torna-se bufa e excêntrica. Estão todos ligados à chantagem e às traições…no tal clube.
Enquanto uns políticos arranjam disfarces: “olhem ali” para não observarmos a verdade “aqui”.

Observemos atentamente os rostos e falas dos personagens principais em palco, Zuckerberg, Elon Musk, Peter Thiel, Larry Ellison,Bill Gates, os senhores da tecnologia, hoje as grandes fortunas financiadoras da política. Atentemos aos rostos e às falas dos aprendizes de fascistas que conhecemos bem (os embriagados de outra forma de soberba), incluindo os do Zionismo. 

Na minha imaginação de escritora vejo-os serem lançados no espaço, a nave caída no Vale do Silicone (ou seja, falso), perdidos neste único planeta com vida e morte, em busca desesperada da eternidade em vida, visto terem ficado presos neste manicómio. Foram buscar os sedentos de poder, os embriagados da soberba, os desesperados por aparecer. 

Daria uma boa novela de ficção. Só que as intenções de ambos os personagens – quem financia e quem aparece – são reais. Os “masterminds” e os testas de ferro estão em jogo. É a perversidade final. Desconseguiram perceber que este planeta foi habitado por uns escritores que viram a alma e as intenções dos humanos.

A nossa espécie malnutriu-se e deu erro no sistema. Foram os “cookies” e os ficheiros temporários que tomaram conta. A peça está descontrolada. 

Vida eterna, poder, controlo, a chave do universo, da criação e os dados pessoais, que incluem em particular os dados médicos dos sete mil milhões de humanos, são o Santo Graal deste quadro da última ceia na Távola Redonda.

Dostoievski sobre a natureza humana diz-nos que “a pessoa já acostumada à perversão procederá da maneira mais abjeta, mas com uma aparência de ordem e de decoro, cuja pretensão é a de ter vantagem sobre os outros. Esta frase não vos traz lembranças?

Para o guião, o nosso país também contribui. Vejamos a actual imbecilidade da “lei da burka” sobre a qual escrevi ironicamente sem perder muito tempo (sobre as escolhas da mulher, como sempre na história, nas religiões Abraâmicas elas são definidas por homens. Ai mulher, coitada de ti e de mim).
Claro que a burka é símbolo de opressão. No Islão. Por razões de sobrevivência a maioria das mulheres usa-a. Outras concordam. Em Portugal é um não assunto uma vez que quase não encontramos mulheres de burka.

Neste caso, enquanto observadores pergunto onde está o interesse. E esse é outro, a agenda é outra.

Não, não é a libertação da voz e do olhar da mulher. “Eles”, os donos da agenda, estão-se nas tintas para isso.

É para tapar o sol com a burka. Enquanto triunfante, o fascismo segue ladeira acima até ao topo do poder, movido a ódio, levado em ombros pela grei e pela comunicação social e pela justiça. Estas últimas compradas que estão pelos senhores do clube. Porque há dinheiro a rodos para  financiar.

Se alguém pensa que esses embriagados da soberba vão arejar o país, ou arejar os países para onde vão, então pobres coitados estais a viver em dissonância cognitiva, mergulhados nas brumas de um culto. Saber disto, dói.

Enquanto isso, pensem comigo. O racismo ainda não é lei. Continua a ser apenas uma contra-ordenação com multa insignificante. Contudo, este país sofre de racismo estrutural. Então não queremos acabar com ele? Não!

O racismo, a islamofobia, o ódio aos pretos, ciganos, imigrantes são bem mais importantes para cumprir a agenda do grupo.
Uns contra os outros.
O campeonato mundial do ódio, parte 2025 depois de Cristo.

Por exemplo, os velhos viram negada uma proposta de lei que os protege e dignifica. Velhos, ide morrer longe. Não servis para nada.
Queremos varrer os pretos e imigrantes do rectângulo, isso sim. Se assim for, nem os velhos recebem reformas, nem ninguém apanha frutos vermelhos para o topo dos bolos.

Não contam os imigrantes que à custa de corrupção com os do clube compraram um visto dourado e compram as casas de milhões e têm o dinheiro em paraísos fiscais. 

De fora ficam os direitos de quem trabalha, o assalto à saúde pública que é cada vez mais uma miragem. Está em cuidados paliativos, porque a ordem em vigor, pelos protagonistas da história, é a de entregar tudo a fundos privados, daqueles senhores que buscam vida eterna.

Menos Estado, para governarem as corporações. Ou vendo melhor, para que o Estado oprima, controle e entregue tudo às corporações como entender, quando os fascistas estiverem no poder. Estão a ver a burka?

Shakespeare apontou-nos o declínio – “É uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos”. Quando formos zombies a arrastar os corpos cadavéricos e despidos, talvez nos lembremos de Steinbeck “ por isso nos olhos dos esfaimados cresce a ira e com ela cresce o fascismo”. “Essa cadela sempre com o cio”, declamou Brecht. 

E assim se faz uma história. Já foi tudo dito e escrito, eu só venho relembrar.

Sigamos os próximos capítulos da peça-série homo-destructus onde os animais são todos iguais, mas num grande clube há uns mais iguais que outros, do qual tu e eu não fazemos parte. — 

Anabela Ferreira

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