KPMG recusa validar contas semestrais do antigo BES

809764Auditora diz que não obteve “prova suficiente” de informação financeira por parte da gestão anterior a Vítor Bento.
A KPMG, responsável por auditar as contas do antigo Banco Espírito Santo (BES), rejeitou dar parecer aos resultados do primeiro semestre, alegando que a administração anterior à de Vítor Bento não assumiu a responsabilidade pela informação financeira do banco.

A auditora foi ver se um conjunto de demonstrações financeiras estava isento “de distorções materialmente relevantes” e sustenta que apenas a administração tem de responder por elas. Em causa, diz, está o facto de o impacto do “saneamento” do BES Angola ainda ser desconhecido e o facto de a exposição do BES às empresas do Grupo Espírito Santo conter riscos, não “havendo confirmação de todas as informações relevantes” para as demonstrações financeiras do banco. E refere ainda o facto de ser incerto o impacto financeiro da transferência de activos que daqui resulta da divisão do BES num “banco mau” e num “banco bom” (Novo Banco) a 3 de Agosto.

Esta “escusa de parecer” foi assinada a 29 de Agosto por Sílvia Gomes em representação da KPMG & Associados e foi anexada ao relatório e contas do primeiro semestre do BES que nesta segunda-feira foi publicado no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A KPMG lembra que “as quantias das demonstrações financeiras [referentes ao primeiro semestre], bem com as da informação financeira adicional, são as que constam dos registos contabilísticos”. E atribuindo ao conselho de administração anterior à chegada de Vítor Bento a responsabilidade pelas contas, refere que é àquele órgão, e não à auditora, que cabe adoptar “políticas e critérios contabilísticos adequados”, manter “um sistema de controlo interno apropriado” e dar conhecimento “de qualquer facto relevante que tenha influenciado a sua actividade, posição financeira ou resultados”.

Em curso está uma auditoria forense, por parte do Banco de Portugal e da consultora PwC, às contas semestrais que a KPMG agora recusa validar.

No segundo trimestre, o banco apresentou um prejuízo de cerca de 3600 milhões de euros. E sustenta a auditora que não recebeu do conselho de administração do BES uma “carta de representações” onde os gestores assumissem a responsabilidade pelas contas até ao dia 30 de Junho (final do primeiro semestre), pela “informação financeira histórica” do banco, pelo controlo interno das contas e pela informação “de qualquer facto que tenha influenciado a actividade, posição financeira ou resultados do BES”.

Diz não ter sido possível “obter prova suficiente e apropriada” de um conjunto de informação. E descreve assim o seu papel enquanto entidade a quem coube a revisão oficial de contas do BES: “A nossa responsabilidade consiste em verificar a informação financeira contida nos documentos acima referidos [registos contabilísticos], designadamente sobre se é completa, verdadeira, actual, clara, objectiva, lícita e em conformidade como o exigido pelo CVM [Código dos Valores Mobiliários], competindo-nos emitir um relatório profissional e independente baseado no nosso trabalho”.

“Considerando o significativo impacto das medidas de resolução aplicadas pelo Banco de Portugal na actividade corrente do BES e na sua condição financeira, a classificação, recuperabilidade e realização dos activos bem como o reembolso dos seus passivos, registados nas demonstrações financeiras do BES em 30 de Junho de 2014, é incerta, uma vez que na presente data não são conhecidos os critérios e bases de avaliação dos mesmos para efeitos da sua transferência para o Novo Banco”, refere ainda.

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