Fado, Futebol e Fátima! (por Jacinto Furtado)

eusébioAfinal António de Oliveira Salazar era um visionário. Ele é que a sabia toda ao dar força ao Fado, ao Futebol e a Fátima, é fácil, o Povo gosta e enquanto andam entretidos com os F’s não falam de outras coisas nem pensam ter alguma iniciativa.

Bem que na década de 60 Salazar disse a Eusébio que ele era património nacional e era em território nacional que tinha de ficar. Os seus seguidores, aqueles que andam a vender todo o nosso património é que não tiveram tempo senão de certeza que o tinham vendido a um qualquer Chinês, Colombiano, Russo ou similar.

É agradável ver como todos os partidos políticos se entendem. É bom saber que há possibilidade de entendimento. Estou absolutamente seguro que a partir de hoje tudo será mais fácil na convivência entre os partidos, tudo obviamente na defesa do mais elevado interesse do Povo Português.

Nem deram tempo a que o cadáver arrefecesse e lá continuaram com a campanha de aproveitamento à volta de Eusébio. É muito natural que muitos dos que vão ler este texto numa primeira fase o considerem quase blasfémia comentar em tom critico a decisão de que Eusébio será transladado para o Panteão Nacional.

A questão não tem nada a ver com Eusébio, nada tenho contra ele, isso que fique bem claro. Tive oportunidade de estar com Eusébio algumas vezes, umas por razões profissionais, outras não. O seu valor enquanto Homem, enquanto futebolista enquanto embaixador do nome de Portugal não está em causa. Em causa está a forma como politicamente há aproveitamentos da imagem das pessoas, em causa está o facto de se manipular os ânimos populares direccionando as suas atenções para onde interessa ao poder politico e arredores.

Não pensem que  o comento por o governo actual ser do CDS com o apoio do PSD, em 1999 o governo era PS e fizeram o mesmo com Amália Rodrigues, até alteraram a Lei para que fossem a tempo de ficar na fotografia.

Voltando ao Panteão Nacional, da trilogia Fado, Futebol e Fado já lá temos a Amália Rodrigues, vamos ter o Eusébio fica a faltar Fátima. Já terão pensado em lá colocar a Irmã Lúcia? Ficava completa a visão de Salazar, ficava completa a obra dos seus seguidores.

O Panteão Nacional não pode ser usado por conveniência de imagem. Para o caso de subsistirem dúvidas volto a referir que não tenho nada contra Eusébio nem contra Amália Rodrigues, por maioria de razão não terei nada contra a Irmã Lúcia, mas então e os outros?

Luís de Camões,Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Egas Moniz que foi prémio Nobel da Medicina uma vez e nomeado cinco vezes. Já que estamos a falar de agraciados com prémio Nobel porque não Saramago? Neste caso estou mesmo à vontade é publico que nunca gostei da obra de Saramago. Porque não estes?

Porque não Gil Vicente o Pai do Teatro Português?

À barca à barca senhores! Oh que maré tão de prata! Um ventezinho que mata e valentes remadores!

Que raio de ideia esta minha, dar destaque e promover intelectuais, malta da cultura, essa gente que com as suas coisas faz o Povo pensar e, já se sabe, se o Povo pensa em algo mais que Fado, Futebol e Fátima o poder começa a ter insónias. Deixemos pois o poder dormir o seu tranquilo sono.

Já há um movimento popular a pedir que Aristides de Sousa Mendes vá para o Panteão Nacional, parece-me bem. Porque não?

E porque não Salgueiro Maia que com a sua coragem, o seu sangue frio, o risco da sua própria vida é indiscutivelmente o grande responsável por actualmente estarmos convencidos que vivemos numa democracia.

Porque não?

 

3 comentários a “Fado, Futebol e Fátima! (por Jacinto Furtado)”

  1. carmo da rosa diz:

    @ Jacinto Furtado: Ele é que a sabia toda ao dar força ao Fado, ao Futebol e a Fátima, é fácil,(…)”

    Ele, Salazar, não dava força, apenas não proibiu a prática do Fado, nem do Futebol, nem das idas a Fátima (e consentiu esta última actividade para não se zangar com o Cardeal Cerejeira).

    É verdade que houve aproveitamento político, mas isso é normal e acontece em todos os países, em todas as épocas e com todo o tipo de regimes…

    Se a patinagem no gelo, o tango e o Budismo fossem prática corrente no nosso país, o Salazar (ou os que lhe vieram a seguir) e o seu regime teriam apadrinhado estas actividades.

    Caro Furtado, onde está a lógica do seu discurso?

    Por um lado coloca uma interrogação na trasladação do Eusébio para o Panteão Nacional, a seguir diz que nada tem contra ele, acabando por afirmar que o que está em causa é o “aproveitamento da imagem das pessoas”….

    Mas se houve aproveitamento não foi do Eusébio, nem ele tem algo a ver com o assunto.

    Sabe porquê?

    Porque já estava morto!

    Tecnicamente ainda não é possível os mortos aproveitarem-se de seja o que for – já virá o tempo, mas por enquanto não.

  2. Eu,um simples operário emigrante na Holanda onde resido desde 1964 e já velhote (89anos),deixo aqui a propósito o meu desabafo que escrevi no ano 2001.
    Eu nada tenho contra o Fado/e até gosto de o ouvir/a voz de Amália é do agrado/do Povo,do seu sentir. Consta que foi um Banqueiro/um dos pilares da Ditadura/que da Amália,foi o padroeiro/seu esteio e vida segura. Eu pessoalmente não aprovo/que alinhem com os Barões/a gente que é filha do Povo/e se encanta com os seus milhões. Haverá qualquer relação/pelo facto de constar/que,da Amália,tinha aprovação/o inumano Regime de Salazar? Amália foi sublime Cantadeira/ do Fado,Canção portuguesa/mas eu não vejo justeza/para Nacional choradeira. Decretar três dias de luto/para a Nação portuguesa/p’la sua morte,é em absoluto/ um gesto de extrema leveza. Que haja presença ministerial/no fúnebre acompanhamento/ acho aceitável e normal/Luto Nacional?! É espavento. Com o seu gesto oficial/Guterres comete exagêro/salvo se fôr p’ra tempêro/do próximo acto eleitoral.

  3. José Seco diz:

    Claro que há aproveitamento político destas situações! A coisa é tão evidente que já fede bem!

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