
A frase que dá título a este texto tem feito correr muita tinta, tem originado muita agitação, mas tem também a particular virtude de permitir que alguns políticos da nossa praça se revelem e mostrem sem margem de dúvidas o quão reles são não olhando a meios para atingir os seus pérfidos objectivos.
Tem ainda, esta frase, uma outra virtuosa característica, fez acontecer o que ninguém, nem o bruxo de Fafe conseguiria antever, calou Marcelo Rebelo de Sousa durante uma semana, há uma semana que o hiperactivo, omnisciente e omnipresente Presidente da República anda desaparecido já com direito a anúncios de “procura-se”.
Polémicas à parte a questão do congelamento de carreiras não é um exclusivo dos professores, há e houve muitas outras carreiras congeladas, desde logo as do sector privado que, de tão congeladas que estão, já passaram à condição de gelo perpétuo.
Acredito que a escolha e utilização do termo congelarfoi feito apenas e exclusivamente com fins políticos permitindo, desta forma, criar todas as crises possíveis e imaginárias, todas as discussões que se queira, todas as expectativas, justas e injustas e todas as interpretações.
Mas que raio é isto do congelamento?
Quando congelamos um bife sabemos que, tempos mais tarde, podemos descongelar e ele está lá, pode até ter perdido algumas das suas qualidades, mas está lá, continua a dar para fazer um excelente bitoque.
O congelamento de carreiras é diferente, uma carreira não é um bife, antes pelo contrário, quando muito será entrecosto, tem muitos ossos para roer. Uma carreira é um percurso, uma viagem de vida, tem o seu início o seu percurso e o seu final.
Terá o seu final se não continuarem a brincar aos políticos e a estoirar alegremente os fundos destinados às pensões.
Se uma carreira é uma viagem então, a não ser pelos já referidos interesses políticos, por que motivo se utiliza a expressão congelamentoe não interrupção?
Imaginemos que vamos fazer uma viagem, por exemplo do Algarve a Trás-os-Montes, mas que quando chegamos a meio caminho o motor do carro começa a aquecer e, se continuarmos a viagem a coisa vai correr mal, o motor vai gripar o que é que há a fazer? Interromper a viagem, paramos 9 horas, 4 minutos e dois segundos antes de retomar o caminho e lá seguimos, em direcção ao nosso destino, em direcção ao final da viagem.
Já pensaram, numa situação destas exigir ao universo que reponha as 9 horas 4 minutos e 2 segundos que estiveram à espera que motor arrefecesse? Não, pois não? Claro que não, isso é impossível! O que queremos é seguir viagem sempre com a garra de quem não quer que o motor volte a aquecer para ter de se ver confrontado com nova interrupção na viagem.
Passa-se exactamente o mesmo com a contagem de tempo das carreiras, não será o momento para alargar comentários à razão que motivou a interrupção de contagem de tempo, mas o facto é que essa interrupção aconteceu.
Também é verdade que a nossa classe política é cobarde e não tem coragem, frontalidade e honestidade para dar o correcto nome às coisas, arranjando termos dúbios para que mais tarde os possam usar uns contra os outros retirando daí benefícios eleitorais, mas sempre sem qualquer tipo de interesse em proteger, verdadeiramente, quem os elege.
Deixem-se de ilusões, não houve congelamento de carreiras, houve isso sim, interrupção de contagem de tempo e o tempo não volta para trás, o tempo que passou é passado, venha o futuro e que seja um futuro melhor.
Já agora, ainda na onda dos maus políticos e das jogadas de interesse na defesa dos seus próprios interesses, qual a razão para que um professor possa atingir o topo da carreira em três décadas e meia e o seu colega do lado, os assistentes operacionais, tenham de trabalhar mais de século para atingir o topo da sua carreira?
Mero e exclusivo interesse de classes!
Uuffff consegui terminar este texto sem referir aquela sinistra personagem que dá pelo nome de Mário Nogueira e que se acha o dono da verdade e da vontade dos professores. Bem vistas as coisas esta personagem está para os professores como o advogado está para os motoristas de matérias perigosas, se Pedro Pardal Henriques nunca conduziu um camião, limitando-se a conduzir o seu Maserati, também Mário Nogueira não sabe o que é dar aulas, tendo dado aulas na primária no tempo em que a televisão ainda era a preto e branco.
Jacinto Furtado
Artigo não fundamentado Ninguém sabe o objectivo.Um tacho ?