Tinha ido à Igreja com as filhas. Regressou a casa para o almoço. Em casa, porta arrombada o seu ex companheiro tinha entrado. Regou-a com gasolina e atirou fogo. As filhas de ambos assistiram
Nasceu no Uganda, morreu aos trinta e três anos num hospital no Quénia onde fizeram de tudo para salvar esta mulher, atleta Olímpica, mãe de duas filhas com nove e onze anos, com queixa apresentada na polícia contra o pai das suas filhas.
Causa: violência doméstica constante.
Um dos motivos prendia-se com a disputa por um terreno onde tinha construído a sua casa. Podia ser tudo e nada. O marido era na sua essência um homem violento.
Como o são milhões de homens que matam as suas companheiras, mulheres, namoradas, não interessa a cor, a nacionalidade, a etnia, idade ou outro.
A base desta violência?
É transversal em todas as sociedades Europeias e Africanas, Sul Americanas, Norte Americanas, Australianas, ou qualquer continente que se preze: o domínio do homem há séculos, desde que mataram o Matriarcado, para não terem de respeitar a mulher – habitualmente a educadora e cuidadora – numa era vulgarmente conhecida por patriarcado (uma organização social ligada à posse de terras, poder social e político).
Homens foram ensinados por séculos a ter comportamentos vis sem consequências. Primeiro lavaram o cérebros às mães, às irmãs, às mulheres da família para que permitissem aos homens ser violentos, para que as pudessem desumanizar e fizessem uso da violência sem receio de responsabilidades.
Lembra-me o racismo: Uma cor superior a outra. No patriarcado joga a farsa construída sobre um género superior a outro – e não se fala mais nisso, por assim é há séculos. Nem se corrige, nem se aplicam penas, nem se acredita nas vítimas.
Para estes donos da violência e aqueles que não ouvem as vítimas a filosofia é simples: a mulher quer-se como a sardinha – encurralada numa caixa, sem voz, faço dela o que eu quiser e é só minha.
Continuemos pois a deixar aumentar os números de mortes no feminino por violência doméstica, pelas mãos daquele amor que a prometeu amar até a matar.
Se a Rebecca tivesse sido escutada…se a mentalidade tivesse mudado…se o peso do patriarcado estivesse a ser medido e entendido…se houvesse consequência para com este crime, talvez a Rebecca estivesse viva. E as suas filhas não estariam traumatizadas para a vida.
Não há nenhuma mulher que ao longo da sua vida não tenha sentido um medo visceral por andar na rua a uma hora tardia e a sombra de um homem se aproxima, ou ao sair à noite para ir dançar ao regressar a casa a pé não sinta uma presença atrás de si e não agarre a chave de casa com força e caminhe mais depressa, ou milhares de outras situação para as quais basta-nos a lembrança. Todas conhecemos a sensação.
Pior, mesmo muito pior é se esse medo nos assalta dentro de casa, com aquele em quem confiamos a vida.
Não quero dizer “descansa em paz” como dizemos a todas as vítimas quando o caixão desce à terra, quero antes sim pensar que um dia as mulheres vão conseguir sim viver em paz porque não mais vão ter medo de um ataque cruel, vil e selvagem de um animal irracional que também é homem.
Anabela Ferreira
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