Saímos à procura de especiarias e descobertas de territórios, encontrámos o ouro: Homens e mulheres.
Depois encontrámos o Brasil, e mais ouro.
As pessoas que fomos encontrando? Ah esses…São indígenas e indignos. Dizemos que por terem a cor de pele preta são inferiores, desumanizamos esta gente e fazemos com as suas vidas a nossa fortuna. Tornamos esses indígenas nossos escravos para trabalhos forçados. Para o resto das suas vidas.
Os homens e mulheres encontrados pela Costa Africana serviriam para o explorar e encher a Côroa de ouro.
A abolição da Escravatura
A 13 de Maio de 1888 a Rainha Dona Isabel abolia a Escravatura no Brasil. Só que não.
Perguntem aos Brasileiros de cor preta, à data de hoje. Não houve nenhum milagre. Apenas varremos o lixo da História para debaixo do tapete.
Portugal conta a tua História!
Eu sou desta terra, estou na minha terra, sofri discriminação aqui nesta minha terra, e levanto como muitos filhos de cá e de lá o tapete, para retirar o lixo sobre escravatura, racismo, colonialismo. Porque ainda é preciso. Se eu pudesse ficar tranquila, acreditem que não me daria a este trabalho que me traz imensos dissabores e inquietudes.
Para não nos esquecermos nunca que todo o chão que pisamos está vestido de pó,cinza, pele e sangue dos nossos antepassados.
As suas lágrimas correm ainda hoje no meu rosto. Somos as suas cinzas.
O mundo Ocidental tornou-se muito rico bem como o centro do mundo por uma razão que ainda hoje gostamos de varrer para debaixo do tapete que acumula lixo – a Escravatura.
É um facto Histórico por todas as nações Europeias que disputaram este comércio. O nascimento do capitalismo está intrinsecamente ligado à Escravatura.
(Hoje é de forma voluntária que nos sujeitamos os senhores e donos.)
O comércio de seres humanos pelo mundo fora, para trabalho para a vida, deste e dos seus descendentes, sem remuneração, acontecia debaixo das piores condições humanamente pensadas e realizadas, sob chicote e grilhões.
Com este crime nunca devidamente investigado como crime, todos os estados dos países europeus enriqueceram obscenamente, tornando uma elite e em geral a sua população branca os privilegiados e beneficiários do crime.
Sem esquecermos que destes escravizados para a vida, dos ventres violados destas mulheres, eram paridos novos escravos.
Por cinco séculos. “Portugal foi o primeiro estado do mundo a fazer comércio global de escravos vindos de África. Mais de quatorze milhões de pessoas.
“Em 1761 Portugal é um dos primeiros a abolir a entrada de escravos na Europa, mas também não podemos esquecer que somos quase dos últimos a abolir a escravatura nos territórios coloniais.”
“…a primeira medida a proibir a escravatura em todos os territórios sob administração portuguesa só é aprovada em 1869 diz o Historiador Arlindo Manuel Caldeira.
“Em Portugal continental já quase não havia escravos, mas nas colónias havia muitos e essa realidade manteve-se de forma encapotada como trabalho forçado, que é quase a mesma coisa, pelo século XX fora.”
Só depois do 25 de Abril de 1974 se começa verdadeiramente a estudar o assunto Escravatura sem a interferência da propaganda do Estado Novo.
O Portugal colonial e de regime fascista manteve-se racista e varreu para debaixo do tapete os assuntos relacionados com o racismo. Daí até ao país se considerar um país não racista foi um pequeno passo. Esta foi a retórica contada e imbuída na psique.
O país auto-proclamou-se racista humanitário, povo amável que adora uma boa aventura de viagens de descobertas, a boa mesa e a boa cama. Até se misturava com as pretas e tinha filhos mestiços, dançava nas tabankas e tinha postos de venda no interior.
Da negação à vergonha é uma linha ténue. É preferível não querermos ver nem falar do assunto uma vez que nunca quisemos investigar de facto o crime como um crime. A história verdadeira, os verdadeiros motivos com verdadeiros beneficiários está aí, a ser estudada.
Passado dois séculos da abolição da Escravatura, hoje em 2022, são poucos os afro-descendentes, os Portugueses com a cor de pele racializada que obtém sucesso, nome, respeito, portas abertas a fazer o seu trabalho, com oportunidades e posição em pé de igualdade com outro Português de cor de pele branca.
E todos sabemos porquê. Porque não tiramos o lixo de debaixo do tapete.
A Escravidão só terá fim quando o lixo for limpo.
Anabela Ferreira
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