Talvez em nenhuma outra campanha eleitoral se praticou tanto a desinformação e o efémero da política espectáculo ganhou tanta força, como forma de moldar a opinião pública. Talvez em nenhuma outra disputa eleitoral, sobretudo da parte do poder instalado, se abriram tanto os cordões à bolsa, retirando dela milhões para satisfazer promessas de atenuação fiscal ou responder a inquietações, como aconteceu com o buraco do ensino artístico. Agora, tudo vai de vento em poupa, foi-se buscar ao armário de 2011 a cartilha das promessas não cumpridas, e é ver se te avias! Vai longe o tempo em que o primeiro-ministro, materializando um papel de proselitismo, encarnando a figura de salvador da pátria, clamava: “Que se lixem as eleições!”
Agora, tudo decorre da demagogia e das mentirolas encenadas na retórica dos comícios e das entrevistas, que às vezes se desfazem nos contactos de rua em que aparecem sempre indignados com contas de pobreza para apresentar. Daí, o cuidado nas ruas, agora com Passos & Portas sempre a bom recato das eventuais indignações públicas.
A tudo isso acresce também a mistificação de sondagens que parece não serem sondagens, mas estudos de opinião, um dos braços armados das televisões fabricados para a prática de continuada desinformação, para sacudir a eventual apatia dos indecisos que, dizem eles, são a erva daninha do acto eleitoral do próximo dia 4 de Outubro.
No fundo, como informação espectáculo, é preciso criar à coligação Portugal à frente a ilusão de uma dinâmica mobilizadora que é sempre cativante para aqueles que estão sempre à espera de embarcar no carro triunfal. Cria-se uma narrativa quase épica para os acontecimentos, colocam-se máscaras de sorrisos, esvazia-a memória da política praticada durante quatro dolorosos anos, finge-se que tudo não passou de uma ficção e que os portugueses não sentiram na pele os efeitos da desgraça. Esse é, porventura, o grande problema da coligação: não pode tornar invisível a pobreza, o desemprego, as malfeitorias feitas ao SNS e à Escola pública, o abandono do Interior, o assassinato da esperança que ´é uma espécie de morte no quotidiano português.
É nesse sentido que se pode dizer que os dados estão lançados e que esta conjuntura não tem feito parte, decerto, dos inquéritos de opinião que por aí estão, como espécie de nova ditadura informativa, a tentar domesticar o pensamento dos portugueses. A ver vamos, como diz o cego…
Deixe um comentário