De armas apontadas à cabeça! (por Anabela Ferreira)

GetAttachmentMais mortes em Portugal. Mais suicídios na Grécia. Mais, mais, mais…desespero.

De gente como nós. Com fome. Aqui à porta de casa.

Aqui da janela onde observo e ouço, dói-me. Não somos vistos como inocentes. Somos apontados como culpados. Vivemos à custa de quem de facto trabalha muito, produz, desconta e constrói. Nós, no sul, somos como bactérias que se alimentam do sangue dos outros. E do seu suor.

Transformaram-nos em parasitas. E a quem pedimos nós contas do que nos transformaram? A quem processamos por crimes contra a Humanidade?

À troika agora desaparecida transformada elegantemente em “instituições”? Aos governos de cada país? À Alemanha? A quem salva bancos e não gente?

Gente da Europa:

Por baixo de almofadas de polyester

comidas pelo tempo,

gastas por tantas lavagens sem amaciador,

esconde-se a vergonha e a miséria,

as lágrimas de sofrimento

uma côdea bolorenta

à espera de ser devorada

em pratos descoloridos, por tantas lavagens sem sabão

escondem a vontade de um pouco de qualquer outro sabor

mostram a fome,

o orgulho de quem deixou de ser gente

a vergonha de ser gente,

e nós, por não falarmos, deixamos de ver?

Deixamos de saber? Deixamos de ouvir falar de tanta desta gente,

Que deixou de ser gente?

mas que é tão gente quanto os senhores de gravata

que se reúnem em salões aquecidos

com intervalos de repastos longos,

onde a vida desta gente, gente como eles,

se decide como se não fossem vidas,

como se não fossem gente?

por ser eu e tu, é urgente,

dar voz a essa gente

e dizer à outra gente, que da matéria de parasitas

não somos feitos.

Há sim parasitas bem oportunistas

Sem qualquer remorso ou consciência

Que esconde, que rouba e que mente

Sanguessugando o sangue da gente

Como arma,

palavras jorrar-me-ão do dedo médio

enquanto eu for gente…

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