O circo de Costa ou de como o jornalismo está a morrer (por João Prudêncio)

10963545_10155202364695548_10155202363895548_37624_1508_bOs esperados malabarismos e contorcionismos verbais e semânticos que Costa terá agora que fazer para explicar a atabalhoada declaração do Casino da Póvoa são o que menos me preocupa. Imagino-o, no Largo do Rato, dedos nas teclas, à procura de sinais de falta de solidariedade internacional da direita durante os governos PS.

Dirá depois: “ao contrário do que vocês fizeram quando eram oposição, nós preocupamo-nos com a imagem do país, com o investimento estrangeiro, e nisso falamos com o Governo a uma só voz”.

Dirá mais: “Para um investidor estrangeiro, Portugal está melhor do que quando foi obrigado a pedir um resgate”, provavelmente lançará a versão 2 da frase de Luís Montenegro (PSD), “o país está melhor mas os portugueses pior”.

Enfim, como qualquer bom saloio, Costa não resistiu a dar “o grande salto em frente” e, imaginando-se já no poder dentro de 10 meses, preparar o terreno para o futuro investimento chinês sob a batuta do Governo PS. Perante uma plateia de “gente importante”, sorriu servilmente, mostrou umas habilidades e… estendeu a mão. Tudo igual à figura de Maria Luís frente a Schauble, que tanto criticara horas antes.

Como dizia no início, estas previsíveis gincanas são o que menos me preocupa. Só revelam quanto é pobrezinha a política portuguesa. O que mais me preocupa agora é que Costa falou para chineses, uns quantos convidados portugueses, os funcionários do casino, os tradutores e… deveria ter falado também para jornalistas. Mas não! Se havia, estavam a dormir ou entretidos com os seus shop sui’s. Vasculhei tudo, procurei em todo o lado. Não há notícias sobre o discurso de Costa, que decorreu na passada quinta-feira, dia 19, antes de… segunda-feira, dia 24! Cinco dias depois!

E sabem como se descobriu, (quase) no fundo da História, o picante do discurso de Costa que faria manchete em qualquer diário ou teria honras de abertura de telejornal? Foi o eurodeputado centrista Nuno Melo que trouxe o “bocadinho” assassino do discurso do líder do PS ao conhecimento do mundo! Através do Youtube e com óbvias (e mais do que legítimas) intenções político-partidárias.

Pergunto: um líder partidário que, segundo todas as sondagens, pode ser o próximo primeiro-ministro de Portugal não deveria andar com os jornalistas sempre “à perna”? Eu sei que Costa falou quase todos os dias, que tem uma agenda muito preenchida, que no próprio dia 19 já tinha falado em Lisboa sobre a Grécia e que a Grécia é que estava a dar nessa semana.

Ao pé disto, pareceu (sabe-se agora que pareceu mal!) a quem manda nas redações que a cerimónia do Ano da Cabra seria um “conto de crianças” e portanto poderia ser dispensada. Não podia! Nem as omnipresentes (e pagas com o dinheiro dos impostos dos portugueses) Lusa, RTP e RDP lá estavam! Quem lá estivesse teria ganho, noticiosamente, o Euromilhões.

Uma semana depois, jornais, rádios e TV’s correm atrás do prejuízo e recuperam as palavras de Costa, já com teias de aranha. Os políticos de direita rejubilam, os socialistas (como se viu com Sérgio Sousa Pinto na AR) assobiam para o lado, os comentadores elegem o assunto como “principal”.

E o jornalismo, desta vez em bloco, mostrou mais uma vez que está desatento, preguiçoso e/ou sem meios para seguir um provável futuro primeiro-ministro!

Sei que ele padece dos três males, não sei em concreto porque falhou naquele dia 19! Mas conhecendo o desinvestimento de que os órgãos de comunicação social (públicos e privados) têm padecido, não me admira que não houvesse “ninguém” nas redacções para ir, naquela noite, a uma cidade a 34 km do Porto. Ainda por cima, provavelmente, fazer horas extraordinárias. E falo sobretudo dos três órgãos públicos. Os jornais fecham muito cedo.

PS – Desmontando um pouco o que disse acima, questiono-me se Costa teria dito o que disse se soubesse que havia jornalistas na sala. Há paus de dois bicos…

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