(É fácil: põe-na a tocar sineta, como o elefante, quando a Justiça quer amendoins).
Estive a ver ontem um debate sobre a corrupção na TVI24, onde um dos intervenientes era Maria José Morgado, Procuradora Geral da República, responsável máxima pelo DIAP.
Pois bem. Disse a Procuradora que o combate à corrupção, em Portugal, é apenas um slogan para sossegar os crentes. E porquê? Porque o DIAP e outras instituições da Justiça, não tem orçamento financeiro autónomo que lhes permita gerir os recursos de acordo com a sua agenda e prioridades de investigação.
Queixou-se a Procuradora que, para comprar um aparelho de 5000€ ?! tem que pedir a verba, justifica-la, e depois logo se vê.
E mais disse: que este processo permite aos políticos saber sempre, com antecedência, o que está a ser investigado, quem está a ser investigado, e poder decidir, através do garrote financeiro quais as investigações que avançam (essas tem verba) e as que ficarão esquecidas, e em banho-maria, por falta de meios.
Nas palavras de Maria José Morgado, esta técnica permite “dosear” o ímpeto investigador dos magistrados, logo condiciona-lo. Dosear foi mesmo a palavra usada pela magistrada.
É notável. E ninguém se insurge. E toda a gente continua a brincar à fábula do “Estado de Direito”. Mesmo os partidos da oposição, quase nenhuma importância deram a estas declarações, de uma alta figura da Justiça e do Estado feitas no espaço público e sem adornos.
Será que todos os partidos sabem deste estado de coisas, dele beneficiam quando é necessário e com ele querem continuar a pactuar? Se assim for, mal vai a democracia. Depois queixem-se dos níveis de abstenção e da ascensão de movimentos radicais e de contestação inorgânica.
Das palavras e da acusação de Morgado depreende-se o seguinte: a corrupção existe, e é necessário lutar contra ela, mas os meios para o fazer são facultados de acordo com lógicas nem sempre transparentes, e provavelmente não decorrentes de restrições financeiras mas de outras, opacas, mas nem por isso inexistentes.
Gorges Orwell em O Triunfo dos Porcos, quando pretendia criticar as utopias igualitárias da esquerda, escrevia: “Os animais são todos iguais, mas há sempre uns mais iguais que outros”.
Pois bem, parafraseando Orwell, eu diria: “Os corruptos não são todos iguais porque há sempre uns mais iguais que outros”. São certamente os que nunca serão investigados porque para os investigar nem sequer haverá dinheiro para fotocópias.
(*) Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online.
Deixe um comentário