Assim que as sondagens anunciaram uma “alarmante” tendência de voto favorável ao Marinho e Pinto, alguns dos “adeptos mais radicais” do Partido Comunista elegeram-no como “persona non grata”, alvo a abater. Alguns, recorreram mesmo à mais populista demagogia, como ocorreu com o ataque baseado nas declarações que prestou contra a tipificação específica do crime de violência doméstica. E por razões jurídicas, que ele explicou de forma a ser compreendido por quem o quis compreender, a verdade é que está cheio de razão.
Arrepiando caminho: sinceramente, não consigo perceber esta espécie de ódio a Marinho e Pinto. O PCP elegeu mais um deputado do que nas últimas eleições europeias. E não me parece que sem Marinho e Pinto tivesse melhores resultados. Marinho e Pinto não “roubou” votos ao PCP. Foi buscá-los, sim, ao eleitorado do PS, que como partido “catch-all” tem sempre tendência a perdê-lo; E do Bloco de Esquerda. Já lá vamos; Para além da natural dissidência de eleitores que votaram nesta maioria PSD/CDS, que se dispersaram por todos os quadrantes. Nestas eleições há portanto dois vencedores: o PCP e Marinho e Pinto.
Já o PS perdeu, perdeu feio, apesar de ser o partido mais votado. Não soube capitalizar sobre 3 anos desgovernação desastrosa e, por isso, só levou vantagem em 4% face ao PSD. É evidente que estou a gostar de ver o circo pegar fogo. Se Seguro se aguentar na liderança, vai levar o PS aos mais baixos resultados de sempre nas próximas legislativas. Se António Costa conseguir convencer as bases (o que duvido…), também não lhe auguro melhor futuro, porque, surpreendentemente, os Portugueses parecem ter percebido finalmente quem é o político por detrás da cara simpática.
Evidentemente que este cenário é intrigante. A coisa promete. O que acontecerá em 2015? Voltará afinal tudo ao mesmo, ou assistimos agora ao prólogo de uma grande mudança anunciada na política portuguesa?
Uma coisa parece-me evidente: o PCP irá assumir uma outra dimensão, para a qual não sei se estará ou não preparado. A verdade é que o PSD há muito que percebeu isto. E por isso, os próximos meses serão marcados por mensagens de esperança.
Falsa esperança. Esta austeridade a que Portugal foi exposto serviu apenas para reequilibrar a balança que os últimos dois anos de governação Sócrates desequilibraram. Mas o problema de Portugal é muito mais profundo. O pior ainda está para vir. É que os erros dos governos PSD, vamos pagá-los durante os próximos 20 anos. Mesmo que não paguemos a dívida, pagaremos por tudo o resto. E o resto é que é o verdadeiro problema. Já Seguro é um líder extremamente incompetente, que não soube sequer explicar ao povo português que Sócrates tirou Portugal do Século XIX, para o fazer entrar directamente no Século XXI (basta dizer que antes dele existiam 140 bibliotecas públicas e depois dele, existiam 2500; Basta dizer foi ele o responsável pela informatização da função pública e, sobretudo, da vulgarização da informática para o cidadão comum). E é claro que isso teve custos. Mas muito menores do que o alcatrão que o PSD nos deixou como herança… A crise, a austeridade, o desemprego, os baixos salários, estão para ficar. O fogo lento que consome o PS e a desagregação do Bloco garantem mais ganhos eleitorais ao PCP. Mas a óbvia incapacidade e falta de vontade do PCP em formar governo são um problema. O PCP é um partido profundamente institucional mas não quer fazer parte do sistema.
João Ferreira é um líder jovem, num partido com um Comité Central envelhecido. Fez uma boa campanha, mas também houve trabalho de fundo. O PCP percebeu que em 2008 contava com ¼ dos militantes, face aos números que apresentava em 2002. A renovação geracional do PCP fez-se de forma pacífica, sem chicana interna; E deu frutos para além dos esperados. Há cada vez mais jovens nas fileiras comunistas o que não é apenas explicado pelo sentimento de revolta, justa revolta, que invadiu as gerações mais novas. O PCP fez o contrário do que foi feito no Bloco de Esquerda e não admira, portanto, que os resultados sejam os opostos. Como dizia anteontem Ricardo Costa, o Bloco perdeu os jovens e perdeu as ruas.
Comecei pela crítica a alguns militantes do PCP e é precisamente por aí que termino. O PCP está a mudar, mas não se está a partir, como todos os outros partidos à sua volta. Nesta mudança haverá, sempre, aqueles que saúdam a velha forma populista e demagógica de fazer política, propalando a democracia com a propaganda Estalinista ao fundo. Talvez pareça que Marinho e Pinto é que é o demagogo, ao candidatar-se depois de ter apelado à abstenção. Mas não. Foi precisamente para recolher os votos dos absentistas conscientes que ele se candidatou. Os seus críticos é que têm o mundo ao contrário. Porque integram um sistema que está a colapsar e sabem que as arrastará. Só é pena Marinho e Pinto não ter menos 20 anos.
Deixe um comentário