Montanhas de caturreira

Querido, escrevo-lhe da boca do inferno. Que é este país como sabe. Tou que não posso. Que caturreira que é o menino João Pereira Coutinho! Bem lhe disse que andava a viver acima das suas possibilidades. Eram iates, as ilhas privadas, o helicóptero e olhe sei lá o whiskey de malte, as festas temáticas e os cavalos. Compreendo-o bem. Todos nós gostamos e sentimos uma espéce de sufoco quando temos de deixar a zona de conforto e abraçar a pobreza. Vá, deixe isso pra lá, chega de se flagelar com o seu silício vou-lhe pagar uma parte dos 116 milhões que a banca lhe perdoou. Eu e o resto dos miseráveis (aqueles que teimam em desdenhar de jaguares, jóias e que batem o pé quando uma gentalha lhes diz que são umas cobardolas e devem sair da sua zona de conforto). Entendo a sua preocupação sobre os 650 postos de oprimidos (alguns devem estar a recibos verdes e ganhar o ordenado mínimo) que valem que eu partilhe o meu pão de espelta. Já me habituei a pagar e a só reclamar aqui no jornal que ninguém me ouve.

Ouça, vá fazer uma jantarada com os seus amigos falidos, alguns a aguardar a ida para a pildra. O menino sabe que o país é uma choldra como nos viu – e bem – o nosso Eça de Queiroz e, cheira-me que tão depressa este não quererá baixar a sua entidade num escritor pindérico que retrate o menino e os seus contemporâneos –  neste que só por ser um país/ janela de porteira feito de pindéricos, possidónios, bêbados, mandriões, rameiras e aldrabões, em breve partirão, falidos outra vez, numa Companhia da Índias modernas, e, se terão esquecido de personagens como o menino. Caturreira!

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