Sem – abrigo somos todos (por Anabela Ferreira)

Nem sempre o sol brilha para todos mas cai no

ocaso sem falhar ninguém.E, se hoje estou debaixo

da sua luz,amanhã posso estar na sua sombra.

Dedicado ao jovem sem-abrigo português que

morreu em Londres,por causa do frio,na saída do metro do Parlamento.

A ti sem-abrigo. Somos todos vagabundos em busca de abrigo seguro.

Já vivi muito do bem vindo da vida
Comi da sua melhor comida
Vesti dela o que queria
Dinheiro perdi sem contar
Mas também aprendi a contar a última moeda
Que nela carregava o único pão desse dia
Numa mesma vida que me enlatava
No estômago de uma lata vazia
Já fiquei a dever
Paguei a quem devia
E outras dívidas vou ter
Até morrer
Já chorei como tu
Por falta de vida
Caída numa pilha de cartão
E vivi sem pensar que podia perder
Ao ver-me deixada para trás
No frio chão
Onde jaziam os meus sonhos
Embrulhados no lixo que me desfaz
A vida perdida
E um dia recuperada
Misturada nos cabelos sujos
Com novos novelos de olhos puros
Nesta força estranha que é a vida
Indiferente ao sol e ao frio
que me devolveu a força de um rio selvagem
Enxuto e limpo
Nunca te esqueças
sem-abrigo somos todos
Nascemos zés de ninguém
à procura de abrigo e de alguém
de braços que nos protejam
De abraços que não nos larguem
Não te esqueças tu que hoje tens abrigo
Nem sempre estás ao lado do brilho do sol
Num sistema que mata
amanhã podes estar na sombra de um cartão
Abandonado numa qualquer estação

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