Vinte milhões- 20 milhões de vítimas (por Anabela Ferreira)

São números de hoje das Nações Unidas. Vinte milhões (20 milhões) de seres humanos com fome, em risco de vida, no continente mais rico do planeta mas também o mais explorado.
Este é o número fabricado pela mão da Humanidade, para o qual os Homens e mulheres com poder têm a solução nas mãos.
A maior crise humanitária em especial no Sudão, Somália, região Nordeste da Nigéria – sem esquecer o Yémen, o caso mais grave fora de África – desde a criação da Organização das Nações Unidas em Outubro de 1945, composta por 193 Estados-membros.

Em 97 cheguei a Moçambique a seguir aos Acordos de Paz em Roma. Tinha terminado uma guerra civil de dezasseis anos e entrava-se um novo ciclo de vida. Guerra nunca mais, somos todos irmãos. A pobreza fruto da guerra nunca mais. Afinal, o país tem tantas riquezas que chega para os de dentro de casa, para dar e vender… A mesma realidade veste outros países.

A alegoria de Mia Couto em “Guerra dos Palhaços” no livro “Estórias Abensonhadas”, uma guerra simulada entre dois palhaços, envolvendo posteriormente a cidade na guerra – entre si – até que finalmente satisfeitos, os dois palhaços sacodem a poeira,levantam-se, apertam as mãos e seguem o seu caminho rumo a nova cidade onde repetem a “guerra”, descreve na perfeição o modelo de vida optado pela História Moderna da Humanidade. Pelo caminho vão ficando os corpos ensanguentados.
Desde que cheguei a Moçambique – mais tarde passando por outros países africanos- ia contando os corpos e contando os programas para eliminar a Pobreza (absoluta). Incontáveis. Participei em alguns e cheguei a algumas pessoas. Muito poucas. As necessidades eram extremas.
Esses programas multiplicaram-se com os tempos e vinte anos passados ainda há corpos caídos de fome e pobreza extrema em Moçambique,em Angola, na Guiné-Bissau, em São Tomé e Príncipe, na Nigéria, no Quénia, no Zimbabwe, na África do Sul…54 países do continente mais rico e mais explorado do mundo. Fico sem palavras com a leitura da História. E a minha presença nela.

As razões dos corpos caídos na pobreza extrema? Tombaram pela fome, vítimas de exploração, vítimas da corrupção, vítimas dos interesses, vítimas da instabilidade, vítimas da violência, vítimas dos roubos, vítimas da hipocrisia, vítimas de secas, vítimas do consumo, noutros lugares que não as suas casas. E as guerras que os retiram do seu chão. São vítimas de conflitos que os deixam sem terra, sem casa, sem escola,sem hospitais. Vítimas da acumulação de riqueza de uns que não as suas famílias exploradas. Vítimas do terrorismo moderno.

São vítimas criadas por mão humana e com solução à mão de semear da mão humana.
São todas elas vítimas de guerras de palhaços.

No ano de dois mil e dezassete- 2017- vinte anos depois de eu própria ter começado a participar em Programas de Erradicação da Pobreza Absoluta, contam-se vinte milhões de Párias caídos no sistema vicioso e anti-humano em que a Humanidade está envolvida e nela me incluo.
Envergonho-me desta catástrofe que se desenrola neste preciso momento do outro lado do mundo, e, se não houver acções concretas, políticas sérias feitas por gente séria e dinheiro – se há para a guerra de palhaços também haverá para dar de comer às vítimas- até ao próximo mês de Julho são vinte milhões de seres humanos em risco de morrer de fome.

Neste momento o mundo deveria estar revoltado e ultrajado com esta situação a escrever aos seus governos, em todas as direcções e redes de apoio. Ao Senhor Secretário Geral das Nações Unidas Dr António Guterres para que pressione e não largue os membros da Organização na qual tem a função máxima.

Mas que mundo é este?
E agora mundo, de tão entretido que andas nas guerras o que é que vais fazer?
Sei a resposta…continuar…
Os párias que morram de fome.

Um comentário a “Vinte milhões- 20 milhões de vítimas (por Anabela Ferreira)”

  1. Maria Ferreira diz:

    Senhor Secretário Geral das Nações Unidas Dr António Guterres, pressione e não largue os membros da Organização na qual tem a função máxima e ajudem efectivamente a travar a fome e a morte de todos.
    É vergonhoso e ultrajante que meio Mundo morra por excesso de comida enquanto outros morrem de fome.

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