
Este ano vamos comemorar o 1º de Maio ainda em estado de emergência.
Ora, mais do que festividades mais ou menos folclóricas e discursos ocos de conteúdo, esta data deve, por um lado, merecer da nossa parte um profundo respeito e, por outro lado, suscitar uma séria reflexão sobre o seu significado e as razões por que ela se mantém mais actual do que nunca.
Na verdade, a data do 1º de Maio está, desde o início, intrinsecamente ligada ao combate contra a exploração e a opressão e à luta por melhores condições de trabalho.
Há 134 anos atrás, mais exactamente no dia 1 de Maio de 1886, realizou-se nos Estados Unidos da América uma greve geral em protesto contra os arbítrios e as prepotências patronais, a ausência de condições mínimas de higiene e segurança e as extenuantes jornadas de trabalho, as quais não raras vezes chegavam às 12, 14 e até 16 horas por dia, numa desenfreada exploração de quem, de seu, só tinha a força dos seus braços.
A reivindicação fundamental dessa greve geral foi, então, a defesa da jornada de 8 horas diárias. E esse movimento de revolta social alcançou um importante relevo na cidade de Chicago, onde a greve conheceu uma enorme dimensão que os patrões procuraram desesperadamente destruir, designadamente através da contratação de fura-greves.
No dia 3 de Maio, grevistas da fábrica McCormicK denunciaram e perseguiram, pelas ruas da cidade, diversos desses fura-greves, mas foram emboscados e selvaticamente alvejados a tiro por polícias (e também detectives da agência Pinkerton), verificando-se várias mortes.
No dia seguinte (4 de Maio), realizou-se uma gigantesca marcha de protesto contra aquela barbárie, mas quando a manifestação se confrontou com a polícia, junto à Haymarket Square, uma bomba rebentou junto dos agentes e estes, de imediato, metralharam os manifestantes, causando números mortos e feridos.

Pouco depois, os sindicalistas Albert Parsons, Adolph Fisher, George Engel, August Spies e Louis Lingg foram presos, acusados e, mesmo sem quaisquer provas, condenados à morte por enforcamento. Tendo, entretanto, o quinto falecido na prisão, os primeiros quatro foram enforcados em 11 de Novembro de 1887, num dia que ficou conhecido por Black Friday, enquanto outros três dirigentes sindicais foram condenados a prisão perpétua. Seis anos mais tarde, em 1893, haveriam todos de ser ilibados pelo governador do Illinois, após se ter confirmado que fora o chefe da polícia que organizara os acontecimentos provocatórios, inclusive o lançamento da bomba que vitimara alguns agentes, para com isto justificar a brutal repressão que fez depois abater trabalhadores e os seus dirigentes.

Não deixando esquecer a memória desta heroica luta, em 20 de Junho de 1889, a II Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu aprovar e proclamar a data do 1º de Maio como o Dia de Homenagem aos Trabalhadores de todo o Mundo.
Desde essa época, a comemoração do 1º de Maio tem sido perseguida e reprimida, a ferro e logo, pelos regimes ditatoriais de todo o Mundo, como o foi também em Portugal, e não só antes como também depois do 25 de Abril, tal como sucedeu no Porto, em 1982, altura em que, às ordens do comissário Magalhães Teixeira, a polícia de choque matou duas pessoas e feriu mais de 100. E tem sido saudada e celebrada pelos operários e trabalhadores como um marco e um símbolo da luta por um Mundo melhor, onde a exploração do homem pelo homem tenha sido definitivamente banida.
Creio, assim, existirem duas ideias finais importantes.
Por um lado, quando hoje temos formalmente consagrados direitos como o da jornada máxima de 8 horas diárias, o da proibição do abaixamento dos salários, o do pagamento dos subsídios de férias e de Natal, bem como do trabalho extraordinário prestado, não nos devemos nunca esquecer que só com muito sangue, suor e lágrimas, de trabalhadoras e trabalhadores e de dirigentes sindicais como os de 1886 em Chicago, foi possível conquistá-los.
Por outro lado, não há verdadeiramente liberdade, e desde logo liberdade sindical, sem direito à greve – também ele historicamente conquistado a ferro e fogo – e quando, sob o argumento de um combate sanitário, o primeiro direito que se trata de suspender e aniquilar é precisamente esse mesmo direito à greve (como sucedeu com o decretamento do estado de emergência), o grito de revolta e a disposição de combate dos operários de Chicago ganham redobrado vigor e a bandeira da luta pelo derrube e abolição do sistema capitalista e de toda a exploração e opressão drapeja afinal com redobrado vigor!
Viva o 1º de Maio.
António Garcia Pereira
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