Como não faço, por enquanto, parte do grupo que Isabel Jonet não quer a navegar na internet andei a dar um passeio virtual pelo passado. Terá sido um acaso do destino, tropecei no Raúl Solnado, passeando um pouco mais fui parar ao Zip Zip, mais propriamente à última entrevista feita no último programa deste que foi o primeiro talk show da televisão Portuguesa.
O Zip Zip foi um marco na história da televisão, apresentado por três enormes nomes, por três enormes profissionais, Raúl Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz. Os dois primeiros já não estão entre nós, morreram naturalmente, o último ainda está mas foi assassinado profissionalmente num processo que ficará para a história como uma das maiores vergonhas da justiça Portuguesa.
A última entrevista do Zip Zip foi feita por Fialho Gouveia e Carlos Cruz a Raúl Solnado. Ao rever esta entrevista veio-me à memória o já distante ano de 81 ou 82 e a minha primeira entrevista feita para o já desaparecido Jornal da Amadora. O destino, uma vez mais, colocou no meu caminho para esta “estreia” um enorme monstro do mundo artístico e cultural Português. O seu nome, Raúl Solnado.
Começar com a fasquia tão elevada foi um risco, começar com tão grande figura podia ter corrido mal mas, Raúl Solnado tinha tanto de grande como de humildade. Quem me recebeu no seu camarim no Teatro Villaret não foi nenhuma vedeta, foi uma pessoa duma grandeza enorme que no primeiro minuto se transformou e assumiu o duplo papel de entrevistado e parceiro que apoiou e ajudou na aventura que eu estava a começar.
Aquela que era para ser uma das tarefas mais difíceis tornou-se, por mérito de Raúl Solnado num dos momentos mais agradáveis, interessantes e memoráveis que tive o privilégio de viver. Não tive oportunidade de entrevistar Fialho Gouveia mas não hei-de perder a oportunidade de conversar com Carlos Cruz.
Lá para cima estava eu a mencionar o tropeço, o Zip Zip e a entrevista a Raúl Solnado no último programa e pensei em partilhar essa entrevista numa data de referência, a mais próximas seria o aniversário do Zip Zip, o primeiro programa foi gravado em 24 de Maio de 1969, transmitido no dia 26, podia ser a data do último programa que foi transmitido no dia 29 de Dezembro de 1969. Podia ser também a data do nascimento de Raúl Solnado, 19 de Outubro ou até mesmo a data em que ele nos deixou fisicamente, 8 de Agosto.
Não é necessária nenhuma data especial para recordar quem merece ser recordado. Não é necessária nenhuma data especial para partilhar os ensinamentos do Passado especialmente neste Presente que está a condicionar o nosso Futuro, Devemos fazer as coisas quando sentimos a vontade de as fazer e não para cumprir calendário.
Raúl Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz tiveram a coragem, a arte e o engenho de utilizar o humor para falar as verdades, para criticar o que tinha que ser criticado. Bem sei que o fizeram em plena Primavera Marcelista e não em tempos mais apertados mas, como o tempo parece estar a andar para trás, aproveitemos enquanto ainda estamos na Primavera Coelhista para mudar o que tem de ser mudado.
Vejam, ou revejam, esta entrevista e vejam com passado quase meio século estamos cada vez mais na mesma. Quase no final da entrevista há uma frase dita por Raúl Solnado que sendo o desejo dele em 1969 já não devia ser o meu sonho em 2014 porque esses princípios já deviam ser mais que garantidos “Quero preparar os meus filhos para a vida apenas no sentido da bondade, justiça e liberdade!”
Obrigado Raúl Solnado, obrigado Fialho Gouveia e obrigado Carlos Cruz (até já!)
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