O procurador Rosário Teixeira, no próprio dia em que o recurso de José Sócrates foi sorteado no Tribunal da Relação apresentou a sua posição. Também o juiz Carlos Alexandre, embora a lei não o imponha, resolveu apresentar argumentos.
Ficámos a saber coisas muito interessantes.
Ficámos a saber que José Sócrates está preso preventivamente porque, caso estivesse em liberdade, podia forjar documentos. Podia?
Ficámos a saber que José Sócrates está preso preventivamente porque, caso estivesse em liberdade podia fugir. Podia?
Ficámos a saber que José Sócrates está preso preventivamente porque, caso estivesse em liberdade e caso fugisse podia pedir asilo a um País da América Latina. Podia?
Esperem, pedir asilo? Asilo como? Assim estilo Asilo Político? Então mas afinal isto tem alguma coisa a ver com politica?
Ficámos também a saber que o Grupo Lena entre 2007 e 2011 recebeu perto de 200 milhões mas não há nenhum concurso suspeito. Suspeita-se que entre Carlos Santos Silva e José Sócrates tenham circulado perto de 500 mil Euros ao longo de três anos.
Ah é verdade, também ficámos a saber que José Sócrates foi preso para que o procurador e o juiz investigassem.
Mas o mais importante de tudo é a “justificação moral” encontrada para explicar a prisão preventiva, o facto de Sócrates e o seu advogado, João Araújo, se desdobrarem em entrevistas. Imagine-se o que não seria se não existisse prisão preventiva, imagine-se que com mais à vontade era possível desmentir a narrativa das supostas fugas de informação. Imagine-se que se contrariava de forma mais eficaz as noticias publicadas pelos órgãos de comunicação oficiais da acusação.
Seria interessante saber, com base nesta argumentação, qual será a opinião da Associação de Juízes, tão célere na forma corporativista como atacou o nonagenário Mário Soares pelo seu artigo de opinião afirmando que este tinha ameaçado o juiz Carlos Alexandre. “O juiz Carlos Alexandre que se cuide.” esta foi a suposta ameaça, na opinião da Associação de Juízes, curiosamente nem o próprio Carlos Alexandre considerou que fosse uma ameaça.
Para ser uma ameaça falta completar a frase, podia ser “o juiz Carlos Alexandre que se cuide, o tempo está frio e pode constipar-se” ou até mesmo “o juiz Carlos Alexandre que se cuide e não acredite em ressonâncias”… Podia ser muita coisa, mas optaram por ameaçar Mário Soares.
A ameaça feita pela Associação de Juízes a Mário Soares tem uma outra leitura. Aos olhos do Povo o pensamento será “se até Mário Soares se entala por falar o melhor é eu ficar calado”. Assim se cala a voz do Povo
Tempos atrás um outro procurador achava-se um profeta, dizia ter poderes especiais, um procurador crente, um procurador que talvez ressonasse e daí lhe tenha nascido a ideia das ressonâncias.
Agora temos um procurador que é visionário, prende com base na ideia que alguém pode vir a cometer um crime. Prende porque alguém pode forjar documentos, prende por alguém pode pedir asilo politico, prende porque alguém pode dar entrevistas livremente e prende porque imagina que alguém cometeu um crime.
Quem, quando, como, onde e porquê não sabe nem tem a mais pálida ideia, mas isso não importa para nada. Era o que faltava, deixar-se estes “pormenores” atrapalharem tão brilhante iniciativa de quem tem deixado escapar livres como passarinhos todos os arguidos dos processos em que mete as mãos.
Podia…! Seria…! Faria…! Terá feito…! Podia ter feito…!
Com base nesta argumentação tudo é possível e legítimo, até por exemplo afirmar-se que será justificável, para quem usa este tipo de argumentação, não pedir asilo politico mas pedir para ser internado num asilo psiquiátrico porque pode vir a desenvolver uma patologia psiquiátrica que poderá vir a ser um risco para a sociedade.
A justiça não pode estar nas mãos de quem usa os tempos verbais no condicional, é perigoso para a democracia, é perigoso para os nossos direitos, liberdades e garantias.
A justiça tem de ser feita por quem sabe e tem capacidade para usar os verbos afirmativos!
É importante que todos pensem mais à frente, pensem além do individuo em questão. José Sócrates, só serve por ser uma figura mediática, além dele há muitos nas mesmas condições, presos para depois se investigar, presos porque alguém usa verbos no condicional, presos porque há ressonâncias.
Este País está a ficar muito perigoso!
[…] Continua… […]