Estou a ouvir o comentário semanal de Marcelo Rebelo de Sousa e confesso que estou perplexo. Além das enciclopédicas considerações habituais, o mais interessante é analisar os comentários sobre as presidenciais. O Marcelo-comentador ignora que exista, sequer, o Marcelo-candidato. Marcelo sabe de todos os outros candidatos ou hipotéticos candidatos: de Nóvoa, de Henrique Neto, de Rui Rio, sobretudo deste, com o intuito de o obrigar a mostrar o jogo. De passagem, qual treinador encartado, dá a táctica que acha que será a ganhadora, para Passos Coelho e Portas e para a candidatura de Direita.
José Alberto de Carvalho diz amém embevecido perante tanta sabedoria e nem sequer é capaz de questionar o sábio-comentador acerca do sábio-candidato, sempre tão bem informado sobre tudo e todos, menos sobre ele próprio.
Ou seja, ao domingo, Marcelo veste os paramentos de presbítero, sobe ao púlpito da TVI e faz campanha eleitoral como se se limitasse a pregar uma santa e elevada homilia que nos santifica a todos e que o fará, a ele, entrar nos Céus com a chave do palácio de Belém à cintura.
Assim se percebe a razão por que já deu a táctica à Direita para as presidenciais: só apoiar depois das legislativas. É que, não sendo apoiado, nem sequer ainda candidato, pode ir pregando aos peixes e aprimorando o isco que se propõe servir ao cardume.
Até que, num domingo qualquer, lá mais para o verão, se vai voltar para o José Alberto de Carvalho, ou para a Tia Judite, se esta regressar com saudades, e dirá:
– Hoje tenho uma notícia, que aqui queria deixar, até porque não é só o Marques Mendes que traz notícias frescas. Estive esta tarde a falar com o Marcelo Rebelo de Sousa e ele informou-me que decidiu avançar e que será candidato à Presidência da República.
Ao que, José Alberto, lhe responderá:
– Ó professor, mas que grande notícia. Em nome da TVI só lhe posso agradecer tão grande bomba noticiosa. Já agora, e que faremos em relação à homilia dominical?
Ao que Marcelo retorquirá, lesto:
– Não percebo o alcance da sua pergunta, José Alberto. Já fizemos a emissão de Angola, do Brasil, da Espanha, do Algarve e de outras latitudes. Não percebo qual é a dificuldade de mandarem uma equipa de exteriores todos os domingos ao Palácio de Belém.
(*) Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online.
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