O povo apoia a Máfia.

Portugal é o quinto país mais corrupto, em 38. Pior do que a Croácia, Quénia, Eslovénia e Sérvia, e depois da Índia e da Ucrânia, segundo o inquérito da consultora Ernest & Young sobre fraude e corrupção.

Segundo Calil Simão, é pressuposto necessário para a instalação da corrupção a ausência de interesse ou compromisso com o bem comum: «A corrupção social ou estatal é caracterizada pela incapacidade moral dos cidadãos de assumir compromissos voltados ao bem comum. Vale dizer, os cidadãos mostram-se incapazes de fazer coisas que não lhes tragam uma gratificação pessoal.».

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O mais grave é que neste inquérito o conceito de corrupção é alargado, embora não tão alargado como devia ser. Deveria, mas não poderia. Porque o povo apoia a máfia. E apoia-a de forma cada vez mais efusiva. O povo só se reconhece a si mesmo nos mafiosos. O povo, é ele próprio um povo mafioso.

 

É por isso que, indiferentes à ruína de milhares de pessoas que pouparam uma vida inteira, não faltam depositantes ao “novo banco”.
É por isso que o povo prefere ir ao hipermercado do empresário que explora os seus funcionários e paga a 180 dias aos seus fornecedores, em vez de ir à praça ou à mercearia do bairro que até é mais barata.

É por também isso que ninguém deixa de comprar nada a empresas que pagam salários que miserificam os trabalhadores, ao mesmo tempo que destroem o planeta, e é igualmente por isso que idolatram Ortegas, Steves Jobs, irmãos Koch ou Waltons, Belmiros e Espíritos Santos.

É por isso que nunca ninguém se preocupou muito em ver os próprios filhos a trabalhar 16 horas por dia a recibos verdes (com base no “argumento” absolutamente imbecil segundo o qual “se eu fui explorado a ti também não te fará mal nenhum”).

É por isso que os paizinhos dão dinheirinho às crianças para ir aos concertos de coisas a que ousam chamar “música” – tudo, menos portuguesa… – no Pavilhão Atlântico, ao mesmo tempo que criticam a sua venda pela pessoa que o comprou (genro de… Cavaco!).

É por isso que se ataca Sócrates por ser culpado dos factos que (não) constam do processo e se ataca o juiz por supostamente pertencer à Opus Dei. Mas nunca se lembraram, nem uns nem outros, de muitos milhares de Portugueses no país onde há mais prisões efectivas, principalmente de jovens, apesar de também ser o país com a mais baixa taxa de criminalidade do Espaço Europeu. E aquele em que a taxa de reincidência é maior, fruto de uma política de reinserção absolutamente inexistente.

É isso que permite que um ex-primeiro-ministro cuja memória é escabrosa, seja alçado a presidente, sabendo-se já da compra de acções a preço de saldo vendidas depois pelo triplo, acções essas de um banco, banco esse que depois faliu – mas nem por isso assim se evitou a falência de outro (com base em esquemas diferentes, é certo: cada partido tem o seu banco e cada banco tem os seus esquemas).

E também é por isso que depois de elegerem um Coelho que só este povo conseguiria tirar da cartola, para assim “punir” um partido que bancarrotou o país, voltarão a lá pôr, precisamente, o mesmo partido e as mesmas “pessoas” que antes de lá tiraram, agora, para punir os outros (e quem acaba punido, são sempre os mesmos).

E também é por isso que ninguém viu mal algum quando os mesmos polícias invadiram a escadaria da mesma Assembleia, onde antes centenas de pessoas afirmaram terem sido espancadas e presas sem direito a advogado.

É por isso, por isto, e por muito mais, que Portugal não tem já sequer um povo. Tem, uma população. Porque como escrevi noutro dia e noutro sítio, ser Povo exige um tronco de valores comuns entre um grupo homogéneo de pessoas ligadas ou não a/por um território.

Corrupção? Corrupção é perversão moral, da integridade, comportamento desonesto ou ilegal, mais notável em pessoas poderosas. Mas não deixa de ser, fora das esferas do poder.

 

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