
Entre uma verdadeira chuva de decisões erradas e de “generosas” distribuições de cargos e de benesses, parece não mais cessar o completo e arrogante despautério da Administração da TAP, ainda por cima, e muito em particular, numa altura que a própria qualifica de “fase crítica do processo de reestruturação”.
Assim, vamos aos factos relacionados com os carros de luxo que a Administração da Madame Christine tratara de adquirir para si e para os “gestores de topo”. No mais completo silêncio, a Administração da TAP decidiu, como aquilo que poderia parecer uma normal medida de gestão, renovar as viaturas atribuídas a administradores e directores fazendo uma aquisição em regime de “renting” (aluguer operacional de longa duração). Entretanto, tornou-se público – com grande e já esperada fúria da mesma Administração!… – que a aquisição em causa dizia respeito a 79 (setente e nove!) carros da marca BMW, todos de alta gama, Plug-in híbridos (eléctricos e a gasolina), com valores de mercado a partir de 52.000€ e 65.000€, respectivamente, uns com uns extraordinários 220 cavalos (BMW X2 xDrive 25e ) e outros com uns ainda mais espantosos 292 cavalos de potência (BMW 530e e SUV BMW X3 xDrive 30e), e que significariam um encargo financeiro global para a Companhia da ordem dos 4 a 5 milhões de euros!
Perante (mais) este escândalo, a Administração da TAP veio então “explicar” que se tratava de “gastar mais agora para poupar no futuro” (qualquer coisa como 630 mil euros), obtendo logo, aliás, a compreensão e apoio dos comentadores e especialistas do costume, mas a verdade é que não explicou:
- em que estado se encontram as actuais viaturas atribuídas aos actuais 79 titulares;
- porquê e para quê precisam administradores e directores, para o desempenho das suas excelsas funções, de carros com quase 300 cavalos de potência e de uma gama de luxo (quem duvidar, veja os vídeos dos modelos em causa e leia os prospectos promocionais da marca…);
- se é ou não verdade que aquelas que estão literalmente a cair de podres, a deixarem entrar água da chuva e com péssimas condições de segurança, são as viaturas atribuídas aos trabalhadores para o desempenho quotidiano das respectivas funções, como por exemplo os da Manutenção;
- por que razão não aplica a Administração a mesma teoria do “pagar mais agora para pagar menos no futuro” à situação dos trabalhadores, e antes persiste na aplicação de violentos cortes salariais e no brutal aumento dos respectivos tempos e ritmos de trabalho;
- perante a patente falta de pessoal qualificado (em particular no Serviço de Voo, na Engenharia e Manutenção) após os despedimentos cegos que promoveu, quais os valores que a TAP já pagou em medidas absolutamente ruinosas como o aluguer (a preços exorbitantes) de aviões, tripulações, manutenção e seguro (os chamados “ACMI”) a companhias estrangeiras, ou pela remessa a outras empresas estrangeiras (também a custos elevadíssimos) para manutenção, reparação ou substituição de motores de aeronaves, ou pela transformação de 2 aviões de passageiros em aeronaves de carga, que estão actualmente paradas, ou até pela anunciada e obscura transferência de instalações para o Parque das Nações.
Acontece que a medida da aquisição de viaturas de luxo para administradores e directores de uma empresa que alega permanentemente grandes dificuldades financeiras, procurando assim justificar cortes salariais de até 25%, suscitou repúdio, não só por parte dos sacrificados trabalhadores da empresa, como por parte da opinião pública em geral, tendo até o próprio Presidente da República opinado que esta era uma “questão de bom senso”. Apenas o Primeiro-Ministro se permitiu fazer uma graçola lastimável sobre o assunto, invocando desconhece-lo, mas referindo: “Só sei que vou apanhar o meu Nissan LEAF para ir para casa”!? E o próprio Ministro Pedro Nuno Santos – que, recordemos, no tempo da administração de Antonoaldo Neves se declarara muito “indignado” com o pagamento, em ano de prejuízos da Empresa, de chorudos prémios a administradores e directores –, face a todo este despautério, fica calado…
É certo que, perante o generalizado repúdio e após a convocação de um protesto espontâneo dos trabalhadores para a frente do Edifício da administração da TAP, esta – que foi sempre manhosamente insistindo em que eram “apenas” 50 e não 79 viaturas – viu-se forçada a, sob a hipócrita referência de que “compreende o sentimento geral dos portugueses”, vir anunciar, em (mais um) comunicado, que, afinal, desistia, durante o período de um ano, da respectiva aquisição.
Porém, depois de tudo o que já se passara e como se tal já não bastasse, veio afinal a saber-se igualmente que os referidos automóveis de luxo encomendados pela administração eram – primeira mentira desta! – mesmo 79, sendo 50 para a TAP S.A. e os restantes 29 para as outras empresas do grupo TAP, com a Portugália à cabeça, e, pior que isso (segunda mentira da Dra Christine e Cª), que 29 deles já tinham sido entregues à Companhia e não podiam ser devolvidos, um deles até já estando atribuído!
Se um acto destes fosse praticado por algum simples trabalhador da Companhia, já a Dra Christine teria tratado de imediato do respectivo despedimento sob a alegação de justa causa, clamando que a violação da lealdade e a deturpação da verdade dos factos lesam de forma irremediável a relação de confiança inerente ao vínculo laboral. Mas, obviamente, isso é para quem trabalha e não para quem diz administrar! Ora, não tendo a hombridade ou o sentido ético de se demitir perante mais este dislate, então têm mesmo que ser os trabalhadores da empresa e os cidadãos em geral a tratar de o impor.
Porém, e como se tudo isto já não fosse suficiente, eis que se vem a saber – nova fuga de informação que levou a Madame Christine a nova e apoplética fúria, a ponto de agora insinuar a ameaça de procedimentos criminais por pretensa difamação contra os autores das denúncias e aqueles que as divulguem… – que a TAP, dirigida pela mesmíssima CEO Madame Christine, contratou, para Directora de um Departamento da Companhia dito de processos, real estate e sustentabilidade, uma senhora engenheira civil de nome Isabel S. C. Nicolau Silva, que logo se anunciou a si própria como tal no Linkedin, e cujos elementos fundamentais do seu “extraordinário” currículo parecem ser estes três: ser amiga pessoal da Madame Christine, ser companheira do “personal trainer” do marido daquela e ser ex-directora financeira da clínica de bem estar do seu próprio companheiro. E, claro, uma contratação com uma astronómica remuneração mensal que foi anunciada como sendo de 15.000€ mensais, mas que a TAP negou, dizendo ser “substancialmente inferior”, recusando-se, contudo, a revelar qual será então o respectivo valor exacto…
Recorde-se que, do mesmo passo que trabalhadores e quadros da empresa com créditos firmados e uma longa e muito rica experiência profissional se veem ou despedidos ou votados ao ostracismo, tiveram lugar outras tão “brilhantes” quanto nunca devidamente explicadas contratações ou nomeações. É o caso de uma pessoa vinda directamente do comércio grossista do Pingo Doce para vogal da Administração de uma companhia aérea, sob o absolutamente extraordinário “argumento” de “experiência” de quem viajou de avião “toda a vida”, ou o caso da nomeação como nova directora do “e-commerce” de um personagem vindo da “Lúcia Piloto Cabeleireiros”. Poderia, de facto, parecer anedota, mas de todo não o é!
Estamos, na verdade, perante uma administração dirigida por alguém não apenas absolutamente incompetente e até irresponsável, incapaz de ter preparado devidamente a retoma da actividade e de ter mobilizado para ela os trabalhadores da Companhia, como também e sobretudo empenhada em garantir uma reforma dourada para si e para o seu pequeno círculo de amigos e apoiantes. Já para não falar da repetida e arrogante recusa em aprender minimamente a língua portuguesa e na insistência em falar em toda a parte apenas em inglês.
A questão é de facto muito grave, já que se trata de enriquecer, a si e aos seus apaniguados, enquanto os trabalhadores, aqueles que verdadeiramente fizeram e fazem a Companhia, são despedidos ou sobre-explorados. E enquanto a TAP é esvaziada de valor e destruída como companhia de aviação, preparando-se assim, e de forma cada vez mais descarada, uma privatização a preço de saldo que, aliás, António Costa e Pedro Nuno Santos, ao fim de milhares de milhões de euros e de mentiradas, já reconhecem ser afinal o seu objectivo próximo!
Rua, pois, e de uma vez por todas, com esta arrogante, incompetente e descontrolada administração da Dra Christine! Antes que seja tarde demais!
Desde logo porque, depois de tudo o que tem feito, o merece por inteiro. Mas também porque a demissão destes administradores, e sem qualquer indemnização – e, claro, também com a devolução das benesses e dos “carrinhos” que entretanto já lhes tenham sido atribuídos – não é já só um problema de Direito ou sequer do mais básico bom senso; é de igual modo, para não dizer sobretudo, uma questão de um mínimo de Ética e da mais elementar Higiene e Saúde no Trabalho!
António Garcia Pereira
Para mais só apenas duas palavras.
“Governo mentiroso”.
Quando esta srª foi contratada veio como uma grande especialista em encerrar empresas de aviação, uma no Brasil e outra na Europa, viu-se logo o interesse: Acabar com a TAP e entregar aos privados, mas só depois de uma grande injeção de financiamento pelo estado português (ou antes o povo). Querem enganar quem?