Várias vezes me dizem que sou como a lua… Tenho fases! (por Ana Luísa Pais)

JackTive a fase em que estava chateada com a vida mas, rapidamente, resolvi o assunto. Combinei café, embora não tenha sido do seu agrado, ela aceitou. É certo e sabido que o meu forte não é a pontualidade, mas a este encontro cheguei à hora marcada, nem um segundo a mais nem um a menos. Sentei-me à sua frente e, em silêncio de olhos nos olhos, confrontei-a.

Não foram necessárias palavras, soube tudo o que precisava saber, senti tudo o que precisava sentir naquela troca de olhares. Pazes feitas com a vida, chega a fase da revolta com as palavras. Aqui, a reconciliação não foi tão fácil. Elas, volta e meia lá se soltavam e o que não era sentido era proferido. Foram meses e meses em que a boca dizia o que o coração não sentia e o cérebro não reconhecia. Saturada que fossem elas a reinar no meu reino, disse que não demorava que só ia comprar tabaco e não apareci durante um bom tempo… Uma vez mais o ditado “Só se dá valor ao que se perde” fez sentido… Elas correram atrás de mim, procuraram-me em todos os cantos e recantos do mundo… Estúpidas não perceberam que estava sentada à porta de casa à espera que se curassem da cegueira e que o narcisismo exacerbado lhes partisse o espelho. Quando pensavam que me tinham perdido para sempre, voltaram e perceberam onde me encontrava, de onde nunca tinha saído. De olhos postos no chão pediram desculpa. Ignorei o pedido… “Olhos nos olhos minhas queridas! Quiseram um reino só para vocês mas esqueceram-se de pedir a independência dele!”. Confesso que me derreti assim que olharam para mim de lágrima no olho… Recordo bem todos os dias de zanga… Todas as fases marcantes por que passei… Mas… Havia uma esquecida! A da pintura! Verdade que nunca parei de pintar. Mas pintava por pintar, coisas pequenas sem grande sentimento… Agora pintar uma tela… De acordo com quem fez as contas passou mais de uma década. Volta e meia comprava uma tela e dizia “Ah e tal vou pintar isto!” mas o “isto” era invisível e as telas permaneceram em branco. Até este fim-de-semana… Tudo dormia e eu, chateada com o João Pestana, levantei-me da cama e dirigi-me à sala para continuar a sessão “Tim Burton”. “The Nightmare Before Christmas” (continua a ser dos meus favoritos) rodava a bom ritmo quando um aperto urinário (com este não me atrevo a chatear porque faz o que quer, quando quer e eu tenho que o aceitar e respeitar senão faz-me passar vergonha) me faz levantar. A caminho da “Casinha do Alívio” reparo numa porta fechada (que sempre lá teve e eu nunca reparei. E, lá vem a filosofia a dizer que nada acontece por acaso e que só vemos o que queremos e estamos preparados para ver). Abro-a e qual não é o meu espanto ao ver as telas em branco que fui acumulando durante esta fase. Os pincéis e as tintas espalhadas pela mesa convidam-me a entrar. Sabem aquele momento em que vos é roubado um beijo e o tempo pára?

Foi exatamente a mesma sensação. Voltei a esta realidade quando olhei para a porta e percebi que não estava sozinha. Ao ver-me pintar disse num tom carinhoso e de sorriso nos lábios “Estás a pintar!” (como me irritam estás afirmações obvias e evidentes… “Não não estou a pintar! Na realidade estou a contar quantas folhas tem um rolo de papel higiénico e a calcular por alto quantas arvores foram destruídas para que eu possa limpar essa afirmação de merd*!).

Mas a verdade é que tinha feito as pazes com as telas!

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